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Posição brasileira sobre anexação na Ucrânia causa consternação

É compreensível zelar pela compra de fertilizantes russos, mas Brasil tem dever moral de defender democracias

Realpolitik,

Causou consternação o comportamento da diplomacia brasileira em votação no Conselho de Segurança da ONU na última sexta-feira. Uma resolução apresentada por Estados Unidos e Albânia condenava a anexação de quatro territórios da Ucrânia pela Rússia, descrita corretamente como “violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”. Dos 15 integrantes do Conselho, dez votaram a favor do texto. O Brasil se uniu a Gabão, China e Índia na abstenção. Antes da votação, todos já sabiam que a medida não daria em nada, poisa Rússia, membro permanente do Conselho, vetaria o texto. Mas não passou despercebi doquem ficou em cimado muro.

O argumento brasileiro é conhecido. Declarações do presidente Jair Bolsonaro na campanha eleitoral tornaram explícitos os motivos que o levaram a acenar à Rússia e a visitar Vladimir Putin dias antes da invasão. Ele disse ter acertado a entrega de fertilizantes imprescindíveis ao agronegócio brasileiro. O Brasil não ficou só no exercício da a diplomacia baseada em considerações práticas, em detrimento das morais ou ideológicas. A Índia, outra democracia vista pelos americanos como contrapeso aos chineses na Ásia, também se absteve evem aumentando a comprado petróleo que financia o regi mede Putin. Na contada Índia, além dos fertilizantes, pesa a dependência de armamentos russos.

Nesse contexto, a abstenção brasileira poderia ser interpretada como parte do pagamento pelo fornecimento de fertilizantes. Só que essa é uma visão limitada, com foco no curto prazo. Por maisque fertilizantes sejam essenciais, nossos maiores interesses estratégicos dependem de democracias, não de ditaduras. Mantida ess apolítica, não tardará achegar o mom entoem que poderemos sofrer mais na economia ena defesa por ficar em cima do muro numa questão tão evidente.

Os últimos movimentos de Vladimir Putin, com plebiscitos fajutos e a anexação dos quatro territórios, equivalem a uma provocação ao Ocidente num momento em que a Rússia perde terreno no campo de batalha. Em razão da audácia teimosa de Putin, a guerra na Ucrânia deverá perdurar por bom tempo, dividindo o mundo ao meio: um campo ligado ao Ocidente democrático, outro a autocracias como China e Rússia.

É aí que entra em jogo o segundo problema na posição do Itamaraty: ela é contrária a nossos valores. Os brasileiros vivem numa democracia, valorizam o regime que desfrutam e não estão dispostos a abrir mão dele. Mesmo sabendo que a votação no Conselho não teria efeito prático, o governo brasileiro tinha o dever moral de ficar ao lado das democracias que condenam a violação óbvia da soberania ucraniana.

O episódio também demonstra a urgência de o Brasil diversificar suas fontes de fertilizantes. A guerra na Ucrânia deverás e estender, adita du rarus sa não mostra sinais de que esteja prestes a ruir, e a anexação possivelmente não será sua última medida absurda. O Brasil não pode correr o risco de queimar sua imagem por satisfazer aos interesses de um autocrata como Putin.

Opinião Do Globo

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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