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SEGUNDO TURNO EXIGE ATITUDE DIFERENTE DE LULA E BOLSONARO

Para vencer o adversário, os dois candidatos têm de oferecer ao eleitor mais do que um antagonismo vazio

As urnas desfizeram ontem a alegria dos que apostavam no voto útil como força irresistível,capazdecatapultar o ex-presidente Luiz InácioLuladaSilvadevoltaaoPlanalto noprimeiroturno.Aocontráriodoque sugeriam as pesquisas, ele ficou longe de superar a metade dos votos válidos e meros cinco pontos percentuais à frente do presidente Jair Bolsonaro. Pesaram para a decepção petista a abstenção nos estratos sociais em que Lula reúne mais apoio (pobres e menos escolarizados) e a reação surpreendente de Bolsonaro em estados críticos do Sudeste, como Rio e São Paulo.

Independentemente do desenho regional e do Congresso que emerge das urnas, o Brasil enfrentará o segundo turno em novas condições. Os eleitores deixaram claro —para Lula, para o PT e para os que embarcaram na nau ecumênica dos autoproclamados “salvadores da democracia” —que nem as manhas, patranhas e artimanhas de Jair Bolsonaro foram suficientes para garantir a seu rival uma vitória que lhe permitiria governar como bem entendesse, sem fazer concessões. Vencerá no segundo turno aquele que conseguir atrair a maior parte dos votos dos demais derrotados. Para ambos, isso significará oferecer ao eleitor mais do que o antagonismo vazio que marcou a campanha até aqui.

Nocas odeBol sonar o, persiste o desafio de superara rejeição acumulada desde o início do governo, sobretudo em razão de sua política desastrosa na pandemia. Para isso, ele precisará ser mais explícito em relação ao que fará de concreto em seu novo mandato em áreas como política ambiental, segurança ou educação, para além das obsessões ideológicas que deram o tom do bolsonarismo no primeiro mandato. As urnas demonstraram que ele tem mais força política do que parecia, sobretudo para quem já o julgava derrotado. Mas não necessariamente o suficiente para superara distância que o separado primeiro colocado. Para isso, ele precisa apresentar mais.

Quanto a Lula, as circunstâncias o obrigarão a explicitar e a negociar aqui loque, por ter deixado em segundo plano, abriu of lanco àre ação bolsonarista. Se, como insiste, su amis sã oé construir consensos com todos os setores da sociedade, a hora de começa ré agora. Não basta encantara plateia de jantares ou enviar emissários para sussurrar o que diferentes audiências gostariam de ouvir. É preciso reunir uma equipe com a credibilidade necessária para resgatar os danos do bolsonarismo em meio ambiente, educação, saúde, segurança, política externa. Mas antes de tudo e especialmente seu desafio é a economia. Pois foi essa a área em que as gestões petistas cometeram os erros mais graves e duradouros, sem o partido jamais ter feito uma avaliação honesta deles.

Qual sua proposta para substituir o teto de gastos? Que fará a respeito da reforma trabalhista e das privatizações? Que tem a dizer sobre as reformas tributária e administrativa? E sobre o papel do Estado e dos bancos públicos no desenvolvimento? Para superar a reação bolsonarista, um bom começo seria repudiar os devaneios petistas que levaram o Brasil à bancarrota. Se Lula quer ser líder de uma coalizão plural pela democracia, precisa agir como tal —e não como o ungido de um grupo político restrito que, da última vez que ocupou o poder, deixou um legado de ruína fiscal e corrupção. Ele tem quatro semanas para explicar como resgatará o Brasil do abismo bolsonarista. Do contrário, as urnas poderão lhe trazer uma nova surpresa desagradável.

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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