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PONTO DE TRANSIÇÃO

POPULARIDADE DOS VÍDEOS ENTRE JOVENS LEVANTA REFLEXÃO SOBRE O FUTURO DAS REDES SOCIAIS, QUE DEIXARAM DE SER UM ESPAÇO DE CONEXÃO DE PESSOAS PARA SE CONCENTRAR NO ENTRETENIMENTO

TALITA DUVANEL talita.duvanel@oglobo.com.br

Nathália Rodrigues, de 24 anos, mais conhecida como Nath Finanças por ensinar economia “para pessoas reais” nas redes sociais, passou um dia inteiro da semana passada gravando vídeos educativos curtos, do tipo que faz sucesso nas redes sociais. Ela preferia postar tudo como álbum de fotos com legendas. Na contramão de muitos, está até lançando no fim do mês um site para concentrar todo o seu conteúdo. Mas ela sabe que para “bombar” hoje em dia a cartilha é outra. É preciso seguir o gosto de seus contemporâneos da geração Z (os jovens nascidos entre a segunda metade dos anos 1990 e os anos 2000): criar e consumir vídeo curto e acelerado.

É para este público que as big tech estão voltadas, sejam novatas como TikTok, sejam mais antigas na praça, como Instagram, Facebook e até YouTube, que hoje anda privilegiando o Shorts, sua funcionalidade de vídeos curtinhos.

Quando deixa o papel de produtora e vira consumidora, Nath acaba assistindo a cada vez mais vídeos, o formato privilegiado pelo algoritmo das redes. E não necessariamente àqueles gravados por seus amigos. As plataformas apostam que os zennials estão interessados em entretenimento, não importa de onde venha. É uma turma totalmente aberta às recomendações de uma inteligência artificial apurada, que logo entende do que ela gosta e passa a recomendar posts de pessoas aleatórias. Entreter, nas redes de 2022, é mais importante do que conectar. Ou seja, se antes a ideia das redes era conectar, agora a ideia é se divertir com o viral da vez, na telinha onipresente na palma da mão.

Como jovem influenciadora digital, Nath se adapta com facilidade, mas e para os millennials? Esta geração, nascida entre 1981 e 1996, mais acostumada com selfie e #tbt, e ainda desconfortável com a fugacidade dos vídeos, vem se perguntando para onde vão as redes sociais. O pesquisador Guilherme Felitti, da empresa de análise de dados Novelo Data, tem sua aposta:

—O futuro passa por vídeo e recomendação de algoritmo —afirma. —Parece claro que Instagram e YouTube entenderam a necessidade de se adaptar a uma realidade trazida pelo TikTok.

MUDANÇA DE FASE

A geração anterior se sente deslocada porque entendeu as redes sociais como um espaço de encontro, para fazer amigos, se relacionar com família, descobrir gente. Este conceito, hoje, não existe mais. A ideia de comunidade deu lugar à individualidade.

Especialista em marketing de influência e sócia da agência YouPix, Rafaela Lotto acredita que os millennials, como ela, aprenderam que rede social é sobre “seguir pessoas que você conhece ou influenciadores de quem se gosta”:

— O conceito para os adolescentes hoje é diferente. O algoritmo é inteligente e mostra conteúdos independentemente dos grupos.

Para muita gente que se acostumou com Facebook e Instagram, a ideia de fazer selfie já é “orgânica”, para usar um termo corrente e entre analistas do meio digital. Mas, para esta turma, fazer (e ficar horas vendo) um vídeo são outros quinhentos. Não para a nova geração. Basta analisar os números. De acordo com dados de 2021 da consultoria App Annie, cada usuário do TikTok passou 19,6 horas por mês na rede, um aumento de 6,3 horas/mês em relação a 2020. Já no Instagram, que anda turbinando sua ferramenta de vídeo Reels, a média mensal foi de 11,2 horas, crescimento de 0,9 hora nessa base de comparação.

— Numa perspectiva além de rede social, é mais fácil consumir e fazer conteúdo em vídeo ou em áudio hoje em dia — diz Rafaela, que cita ainda o exemplo do WhatsApp, plataforma em que os áudios vêm ocupando cada vez mais seu lugar em detrimento das mensagens de texto.

A questão geracional pode mesmo pesar. O redator Renan Wilbert, de 33 anos, criador do perfil “Igreja Santa Cher na Terra” (@igrejadesantacher) no Instagram, era assíduo na rede social das fotos, publicando conteúdos de temática LGBTQIAP+. Mas anda desanimado com os rumos da plataforma. Ao TikTok, ele quase não vai. Acha que, pela primeira vez na história da internet, existe uma transição de mídia e formato que é radical demais para sua turma, e que anda embaralhando percepções e dificultando migrações:

— Vimos o surgimento de tudo: ICQ, MSN... Fomos nos acostumando. Só que agora vemos uma mudança cujo foco não é a nossa geração.

Para pessoas como o fotógrafo Alan Rodrigues, de 28 anos, também não tem sido fácil assimilar os novos (e acelerados) tempos. Ele não é um influencer, mas usa o Instagram, como a maioria de seus colegas, para mostrar seus trabalhos. Costuma postar muita foto, mas, como a plataforma tem privilegiado as postagens com vídeos, ele reclama que seus seguidores quase não veem o que ele posta:

— O que o senso comum gosta é vídeo de dancinha ou foto de corpo. É a isso que as redes dão visibilidade.

Convidado há muito tempo por Tatá Werneck, Fabio Porchat finalmente foi ao “Lady night”. Eles, que são amigos de longa data, gravaram o quadro “Quem sabe mente ao vivo” e brincaram de criar bordões simultaneamente. Porchat falou sobre sua chegada à Globo, “num momento da carreira em que eu precisava conhecer gente e ganhar dinheiro. Trabalhar com 20 roteiristas ajuda muito no resultado final. No ‘Zorra total’, aprendi essa coisa de ideias conjuntas”. Repare no cenário. Há uma brincadeira com “fecha na Prochaska”. A frase virou piada nos anos 1980, quando foi dita por Otávio Mesquita para o câmera que o acompanhava numa cobertura de carnaval. Mesquita se referia à atriz Cristina Prochaska, que estava no camarote. Ganhou duplo sentido e até hoje é lembrada como anedota

SEGUNDO CADERNO

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2022-08-12T07:00:00.0000000Z

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