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ONU vê risco de ‘catástrofe’ em usina nuclear da Ucrânia

Arredores da central de Zaporíjia, desde março ocupada por forças da Rússia, vêm sendo palco de operações militares

Osecretário-geral da ONU, António Guterres, alertou ontem para o risco de uma “catástrofe” na central nuclear de Zaporíjia, no Sul da Ucrânia. O alerta foi feito por ocasião de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança, marcada por mais um pedido para que inspetores da agência atômica da ONU sejam autorizados a entrar no complexo, algo impossível hoje por causa dos confrontos entre russos e ucranianos em seus arredores.

O chefe da ONU pediu o fim “imediato” das “atividades militares” perto do complexo nuclear, o maior da Europa, que está ocupado por forças russas desde março. Guterres pediu também que os soldados russos deixem o espaço elevem junto suas armas, afirmando que a usina “não deve ser usada para operações militares”.

“Infelizmente, em vez de desescalar, nos últimos dias houve relatos de incidentes profundamente preocupantes que, se continuarem, podem levar a uma catástrofe”, disse ele, em comunicado, pedindo um acordo de “nível técnico” para desmilitarizar um perímetro de segurança ao redor do complexo, algo também apoiado pelo Departamento de Estado dos EUA ontem.

Na reunião do Conselho de Segurança, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, afirmou que, embora não haja risco imediato, a situação em Zaporíjia é grave.

— A situação nas centrais nucleares e, em particular, na central de Zaporíjia se deteriorou rapidamente, a ponto de se tornar muito alarmante — disse Grossi, que participou por videoconferência.

Ele também defendeu o envio imediato de inspetores, algo que depende de um acordo entre russos e ucranianos, uma vez que a missão passará por territórios controlados pelos dois lados e precisará de um cessar-fogo, ao menos temporário, para realizar os trabalhos em segurança.

—A AIEA está pronta para realizar tal missão, nós não podemos permitir que esses incidentes dos últimos meses se repitam —disse Grossi, referindo-se aos combates nos arredores da usina.

TROCA DE ACUSAÇÕES

Próxima à cidade de Enerhodar, às margens do rio Dnipro, a usina abriga seis dos 15 reatores ucranianos e tem capacidade de fornecer energia a 4 milhões de residências.

Durante a reunião na ONU, representantes de Moscou e Kiev voltaram a trocar acusações sobre a responsabilidade pelos ataques contra a usina —o encontro terminou sem um acordo para o envio dos inspetores, apesar dos dois lados se dizerem favoráveis à iniciativa.

Mais cedo, Vladimir Rogov, integrante da administração regional que o Kremlin instalou na área, disse que os ucranianos “voltaram a bombardear a central nuclear de Zaporíjia e o território ao seu redor” usando mísseis e artilharia pesada. Ele declarou também que “vários sensores de radiação foram danificados”.

Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a segurança de Zaporíjia só estará garantida se todas as forças de Moscou deixarem a central nuclear e afirmou que projéteis russos caíram dentro do complexo ontem.

— O que está acontecendo agora em torno da central nuclear de Zaporíjia é um dos maiores crimes do Estado terrorista — disse Zelensky. — A Rússia mais uma vez chegou ao fundo do poço na História mundial do terrorismo. Ninguém mais usou uma usina nuclear de forma tão óbvia para ameaçar o mundo inteiro e apresentar algumas condições.

Até o momento, Moscou e Kiev reiteram que não houve vazamento de material, mas a troca de acusações sobre a intensificação de ataques nas últimas semanas aumentou as preocupações sobre a segurança da usina.

Zaporíjia foi ocupada pelos russos em 4 de março, após uma batalha apontada como de extremo risco pela AIEA. Instalações chegaram a ser danificadas por foguetes e por disparos de artilharia, mas não houve danos nos reatores em operação.

Mesmo sob controle russo, a usina ainda é operada por funcionários ucranianos, que, de acordo com relatos de Kiev, trabalham em regime de “semiliberdade”. Estima-se que 500 militares russos estejam na central, também usada como local de armazenamento de armas e equipamentos de combate.

Desde março, autoridades locais e a AIEA vêm alertando para os riscos de incluir reatores atômicos em uma estratégia de combate. Na quarta-feira, os países do Grupo dos Sete, que reúne algumas das economias mais industrializadas do planeta — e alinhadas aos EUA —, afirmaram que a ocupação de Moscou na usina “põe a região em risco”.

MUNDO

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2022-08-12T07:00:00.0000000Z

2022-08-12T07:00:00.0000000Z

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