Infoglobo

Ford adota um novo modelo de negócios no Brasil

Após encerrar produção de veículos, montadora se volta para exportação de serviços de engenharia e desenvolvimento de tecnologia

JOÃO SORIMA NETO joao.sorima@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO teardown. hub

Um ano e meio após encerrar a produção de veículos no Brasil e fechar 5 mil postos de trabalho em três fábricas que foram desativadas, a Ford se reestruturou no país em um novo modelo de negócios. A estratégia é exportar serviços de engenharia, pesquisa e desenvolvimento de tecnologia automotiva para gerar receitas. Este ano, a expectativa é que sejam gerados R$ 500 milhões.

Segundo a Ford, o Brasil se transformou em um centro de desenvolvimento de tecnologia como outros que a montadora tem espalhados pelo mundo. A estratégia é aproveitar a experiência da equipe de engenheiros brasileiros para participar do desenvolvimento de carros globais.

A equipe brasileira, por exemplo, já deu sugestões acatadas pela montadora no desenvolvimento da suspensão do Bronco, seu novo SUV médio.

A engenharia costuma ser um centro de custos, mas aqui, segundo Rogelio Goldfarb, vice-presidente da Ford para América do Sul, o setor será gerador de receitas.

—Nós brasileiros nos sentimos muito distantes do desenvolvimento de tecnologia de ponta. Mas temos gente capacitada para fazer isso, temos demanda e somos competitivos, com custo menor, e isso nos diferencia. Hoje, esse centro é parte do nosso modelo de negócio —afirmou.

1.500 PROFISSIONAIS

A equipe de engenharia da Ford atual conta com 1.500 profissionais. Pelo menos 250 são pesquisadores, e outros cem serão contratados em breve. Desse total, 1.200 trabalham em Camaçari, na Bahia, no Centro de Desenvolvimento e Tecnologia.

A unidade faz parte de um ecossistema da montadora com outros nove centros de pesquisa e desenvolvimento espalhados pelo mundo. Antes, esses engenheiros estavam dedicados ao desenvolvimento local. Também funciona em Camaçari a startup D-Ford, criada pela montadora e voltada para a área da inovação aplicada em produtos e manufatura.

A estratégia para a equipe brasileira é que ela siga três pilares estratégicos que são parte da visão da Ford para o futuro do segmento automotivo: eletrificação, automação e conectividade.

Também integram a estrutura da Ford no país o Campo de Provas de Tatuí, no interior de São Paulo, e um centro em Pacheco, na Argentina.

Em Tatuí, são 20 quilômetros de pistas pavimentadas, 40 quilômetros de pistas offroad e laboratórios em que são feitos testes de durabilidade, emissão de ruídos. Como ele, existem outros sete campos de prova no mundo.

— Do nosso trabalho aqui, 85% são destinados à Ford global, e 15%, para a América do Sul —disse Alex Machado, diretor de desenvolvimento da Ford América do Sul.

Além dos testes em pistas que simulam areia, lama e pedras, os veículos passam por testes de durabilidade.

Há ainda desmonte de motores e de veículos para análise das peças, o chamado

A ideia é criar um banco de dados digitalizado que permita fazer melhorias na performance dos carros.

Todos os modelos da Ford passam por testes em Tatuí. O novo Mustang eletrificado Mach-E, por exemplo, já está sendo testado na unidade paulista. A Ford anunciou investimentos globais em eletrificação de US$ 50 bilhões até 2026 e projeta que 2 milhões de veículos elétricos já sejam vendidos até 2026.

A montadora identificou uma oportunidade de negócio e abriu o centro para que outras empresas, tanto automotivas quanto de outros setores, testem seus produtos no local. O campo vai ganhar antena para 5G, ampliar a conectividade nas pistas e deverá iniciar testes com carros autônomos.

Para Antônio Jorge Martins, coordenador acadêmico dos cursos automotivos da Fundação Getulio Vargas (FGV), mesmo tendo encerrado a produçãodeveículosnopaís,a Ford tem um “ativo” importante de engenharia aqui, com conhecimento de longo prazo e experiência acumulada na indústriaautomotiva.Elelembra, por exemplo, que o EcoSport foi totalmente desenvolvido no país e teve sucesso.

— Além disso, o câmbio favorece a operação, já que os salários da engenharia tendem a ser menores do que nos EUA e Europa. Portanto, o custo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia no Brasil, para a montadora, é mais baixo. Por isso, o Brasil pode ser um de tecnologia interessante — avalia o especialista.

ECONOMIA

pt-br

2022-08-12T07:00:00.0000000Z

2022-08-12T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281895892021204

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.