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PLURALISMO EM CENA

ENCONTRO DE GERAÇÕES ILUSTRA DIVERSIFICAÇÃO DE PERFIS DA RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA NO PAÍS

GUILHERME CAETANO, SÉRGIO ROXO, IVAN MARTÍNEZ-VARGAS E VERA MAGALHÃES politica@oglobo.com.br SÃO PAULO

“Sou uma mulher preta, cidadã brasileira” _

Eunice Jesus Prudente, professora, primeira a ler a Carta

Oato realizado na manhã de ontem na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) para a leitura da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito” foi marcado pelo pluralismo, diversidade e encontro de gerações. Dezenove juristas signatários da Carta de 1977, dos quais 17 homens brancos, sentaram-se para ouvir a reedição do documento histórico. No púlpito à sua frente, a leitura do manifesto, desta vez, teve o protagonismo de mulheres negras.

A atriz Roberta Estrela D’Alva abriu a cerimônia em que a primeira a discursar foi Manuela Morais, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto. Ambas negras. Antes delas, do lado de fora e no Salão Nobre da faculdade, ativistas do movimento negro como Douglas Belchior e a advogada Beatriz Lourenço do Nascimento, representando a Uneafro e a Coalizão Negra por Direitos; Letícia Chagas, primeira presidente negra do XI de Agosto; Bruna Brelaz, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE); e Telma Aparecida, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), discursaram.

— Enquanto houver racismo, não haverá democracia —iniciou seu discurso Douglas Belchior, dando o tom que seria compartilhado por outras lideranças.

Se em 1977 o manifesto foi lido por Goffredo da Silva Telles Júnior, agora a leitura foi compartilhada por três mulheres (Eunice Jesus Prudente, professora da Faculdade Zumbi dos Palmares; Maria Paula Dallari Bucci, professora da Faculdade de Direito; e Ana Elisa Bechara, vice-diretora da Faculdade de Direito) e um homem (Flávio Flores da Cunha Bierrenbach, ex-ministro do Superior Tribunal Militar).

Há 45 anos, o protagonismo era, além de Telles Júnior, de figuras como Fábio Konder Comparato, José Afonso da Silva, Tercio Sampaio Ferraz Junior, Miguel Reale Júnior e José Gregori.

Anfitriões e organizadores do evento que reuniu milhares de pessoas dentro e fora do prédio, estudantes da faculdade do Largo de São Francisco vestiam camisetas com os dizeres “Estado democrático de direito sempre”. Coube a eles quebrar o protocolo do ato, que evitou a menção direta ao presidente Jair Bolsonaro. Primeiro, no discurso da representante do Centro Acadêmico XI de agosto, e, depois, no coro de “Fora Bolsonaro” entoado ao término da leitura da carta assinada por 950 mil pessoas.

Políticos presentes ficaram no papel de espectadores. Os presidenciáveis não compareceram, mas estiveram lá o candidato do PT ao governo de São Paulo, Fernando Haddad; o candidato ao Senado pelo PSB, Márcio França; o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo; deputados e candidatos a deputado e ex-ministros como Aloizio Mercadante e José Carlos Dias, além de professores, advogados, jornalistas, economistas, ativistas de diferentes causas, empresários e sindicalistas.

DIFERENTES PERFIS

Os diferentes pontos de vista ficaram explícitos nos discursos. O caráter de suspensão temporária e estratégica dessas divergências foi destacado em falas como a de José Carlos Dias, que, ao ler o texto das entidades encabeçadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) louvou a reunião de “capital e trabalho” em defesa da democracia.

Segundo o advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas, que participou da organização, havia uma preocupação para garantir que representantes do movimento negro tivessem o seu lugar garantido dentro do prédio.

Por isso, mesmo quando o ato estava para começar, não foi permitida a entrada de pessoas que não estavam na lista de convidados.

Advogados do Prerrogativas chegaram a sair do prédio e entregaram seus broches de acesso para integrantes de movimentos sociais e ex-alunos da instituição.

— A gente está dialogando com o Brasil. E por isso, a nossa preocupação era que o ato fosse o mais inclusivo e representativo possível. Tinha que ter movimento social, movimento negro e empresários —disse Carvalho.

Entre os presentes no ato estavam o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, a socióloga Neca Setubal, e o Padre Júlio Lancellotti. Também compareceram nomes como a cantora Daniela Mercury, o ex-jogador Walter Casagrande e o escritor Marcelo Rubens Paiva .

“Hoje foi mais popular que há 45 anos atrás”

_ Cláudio Boccado e Loreley Oliveira, advogados, presentes também em 1977

“O vencendor das eleições é o povo brasileiro”

_ Celso Campilomgo, diretor da faculdade de Direito da USP

“Vamos construir a virada. A luta é pela democracia” _

Luiza Erundina, deputada (PSOL-SP)

“Há contínuas ameaças contra as eleições”

_ Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça

“Em apoio à nova edição das Carta aos Brasileiros”

_ Govinda Lilamrta, do coletivo VoteLGBT

“Não tem arma de fogo, a nossa arma é votar” _ Walter Casagrande, ex-jogador de futebol

“A nossa democracia está sendo aviltada” _

Joice Hasselmann, deputada (PSDB-SP)

POLÍTICA

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2022-08-12T07:00:00.0000000Z

2022-08-12T07:00:00.0000000Z

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