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Dois artistas inovadores que casam a vida com suas criações

Pioneiros no uso das imagens técnicas nas artes visuais, Regina Vater e Bill Lundberg expõem trabalhos em Maricá

MARCIO MENASCE falaniteroi@oglobo.com.br

Viver é arte e se dá pelo ato de experimentar. Isso é o que parece marcar a trajetória do casal de artistas plásticos Regina Vater e Bill Lundberg. Foi assim que, há 12 anos, eles se mudaram dos Estados Unidos para Maricá. E é assim que entrelaçam sua relação, suas obras e seu cotidiano ao longo de suas carreiras. Uma pequena mostra disso pode ser vista até 30 de julho na exposição coletiva “Canto porque resisto”, na Casa de Cultura de Maricá. No mostra, da qual Regina também participa, o americano Lundberg expõe um vídeo que conta bem como a vida e a obra deles se enredam. O trabalho, intitulado “Cova”, foi gravado no quintal da casa dos dois e apresenta um operário cavando um buraco em looping.

—A gente precisou mesmo cavar um poço de água no quintal, e eu aproveitei para filmar —conta Lundberg, para quem o trabalho dialoga com o atual contexto político do Brasil e do mundo, como se estivesse sendo cavado um buraco cada vez maior. Na exposição, a brasileira Regina apresenta uma série de fotografias que tem relação com paixões que só aumentaram desde que se mudou para Maricá: a natureza e a jardinagem. Em suas fotografias, ela insere animais por meio de colagem digital em paisagens fotografadas. É como se a artista estivesse recompondo o meio ambiente, como faz no seu jardim, em si mesmo um trabalho de arte e experimentação. O espírito aberto à experiência foi o que consagrou Lundberg como um dos pioneiros da videoarte no mundo e marcou a trajetória de Regina como uma artista que começou no desenho e na pintura e transitou por todas as mídias. Esse espírito aventureiro também foi o que fez o casal aportar em Maricá em 2012. Naquele mesmo ano, Lundberg se aposentara como professor de arte da Universidade do Texas, e eles estavam passando uma temporada no Brasil, após quase 35 anos morando juntos nos Estados Unidos. Um dia, passaram por Maricá a caminho da festa de um amigo. Quando Lundberg viu a paisagem pela janela do carro, decidiu que era ali que queria morar. E assim fizeram.

A decisão intempestiva e surpreendente poderia assustar muita gente, mas não Regina. Com ele, a artista já experimentara viver de muitas e diferentes maneiras. Por 25 anos, eles moraram no conservador Texas, onde ela conta que as pessoas escondiam as bolsas ao ver uma brasileira entrar numa loja.

Em Nova York, onde ela morou por cinco anos quando ganhou a prestigiosa bolsa de arte Guggenheim, o casal viveu num prédio comandado pela máfia. Quando os criminosos decidiram dobrar o valor do aluguel da noite para o dia, passaram a morar numa Kombi. Nesse tempo, davam banho na gatinha que tinham com água mineral de garrafa. Depois, alugaram um minúsculo apartamento no Harlem, bairro então barra-pesada de Nova York, só para ter onde deixar a gata, enquanto eles dormiam no carro.

De todas essas experiências, Regina e Lundberg extraíram o alimento para seguir produzindo arte e vivendo unidos e abertos às novas mídias e moradias.

Duas novas exposições serão abertas no MAC, no sábado. O artista Rafael Vicente abre a mostra“Pontos de fuga”, às 15h, celebrando 28 anos de carreira. São 70 obras, todas inéditas, entre pinturas e uma instalação que vai ocupar o salão principal. Às 17h, será aberta a exposição “De onde vemos”, da artista Denise Berber, que reúne pinturas, instalações inéditas e intervenções de artistas convidados com a proposta de refletir sobre o compartilhamento dos diferentes modos de ver o mundo.

Niterói

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2022-06-26T07:00:00.0000000Z

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