Infoglobo

MARTHA MEDEIROS

marthamedeiros@terra.com.br MARTHA MEDEIROS

Também acho uma beleza a Torre Eiffel, o Big Ben e a Fontana de Trevi, mas o que mais me encanta na Europa não são as atrações turísticas, e sim o estilo de vida. Lá o transporte público é levado a sério, carro não é símbolo de status. Como os prédios antigos não têm garagem, a população procura se locomover de bicicleta, ônibus e metrô, nos casos em que não dá para ir a pé. As mulheres não são julgadas pelas suas rugas e estado civil. Envelhecer não é crime e viver sozinha é uma opção tão aceitável como qualquer outra. Alguém que chamasse uma mulher de “mal-amada” seria empalhado e exibido no Museu de História Natural.

A nudez não escandaliza. Nas praias, o topless é considerado uma atitude naturalista, e até nos parques o pessoal tira a roupa sem constrangimento, é uma saudação ao sol. A Pedalada Pelada (manifestação de ciclistas nus pela conscientização no trânsito) é vista com bom humor e não espanto. O corpo despido nem sempre está associado ao sexo, desnudar-se em público tem nada de erótico. Está tudo certo, ninguém agride, ninguém reprime.

O ativismo a favor dos direitos dos negros, mulheres e comunidade LGBTQIA+ é cotidiano. Até em tapumes de obras vemos frases motivacionais em defesa da igualdade. Em casas de espetáculos, há painéis de led reforçando o empoderamento das chamadas minorias. O clima é de atenção plena às questões humanistas.

Passeata todo dia, toda hora. A rua é um palanque aberto para quem quiser protestar contra o aumento do custo de vida, contra a corrupção, contra os ataques ao meio ambiente. Faz parte da rotina.

Livrarias são templos, mesmo as mínimas, especialmente as mínimas. Em muitas delas, os proprietários colocam os livros sobre uma mesa na calçada e o pedestre pode escolher um título que lhe agrade, deixando a quantia que quiser. Sem falar nos músicos que tocam ao ar livre, nos malabaristas, dançarinos, grafiteiros. As cidades são como devem ser: alegres e agregadoras.

As lindas praias do litoral brasileiro atraem muitos turistas, mas até quando viveremos atrasados em relação a costumes que não precisam ser exclusividade de países desenvolvidos? Todas as nações têm problemas difíceis de resolver, os nossos são gravíssimos (fome, violência), mas eliminar a caretice não é tão complicado, depende de prezar mais a cultura do que o dinheiro, mais a educação do que o consumismo. Que Europa é essa que a gente tanto admira lá fora que não pode ser reproduzida um pouquinho aqui dentro? Não precisamos dar em troca nossa autenticidade, que é preciosa, mas seria um avanço se buscássemos nosso ideal de destino exatamente onde estamos.

NA EUROPA, O TRANSPORTE PÚBLICO É LEVADO A SÉRIO, CARRO NÃO É SÍMBOLO DE STATUS. A NUDEZ NÃO ESCANDALIZA. NAS PRAIAS, O TOPLESS É CONSIDERADO UMA ATITUDE NATURALISTA

Ela

pt-br

2022-06-26T07:00:00.0000000Z

2022-06-26T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/282810719959815

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.