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Noites de muito ‘metal’ no Rock in Rio

Palco Mundo, que vai receber estrelas como Ivete Sangalo e Justin Bieber, será feito com 200 toneladas de material reciclado recolhidas em todo o país; um milhão de pessoas vão participar do processo

MARCELLA SOBRAL marcella.elias@edglobo.com.br

Neste Rock in Rio, todo dia vai ser dia de metal. E não tem nada a ver com rock pauleira, não. É aço mesmo. É que, pela primeira vez na história do festival, o Palco Mundo será construído de aço reciclado, que vem de sucata. Serão nada menos do que 200 toneladas de material usadas numa estrutura de 30 metros de altura e 104 metros de largura, por onde vão passar os principais nomes do espetáculo, como Justin Bieber, Guns N’Roses e Ivete Sangalo, entre os dias 2 e 4 de setembro e 8 e 11 do mesmo mês.

Tão plural quanto o festival, esse palco —o maior de todas as edições do festival — será construído com a colaboração de um milhão de pessoas, como catadores de latinha que vemos nas ruas todos os dias, sucateiros e os envolvidos no processo em si, que ficará a cargo da Gerdau, maior recicladora de aço da

América Latina. O resultado será uma estrutura com estética futurista, que será utilizada nos festivais seguintes. Considerada lixo para a maioria das pessoas, a sucata ferrosa é o material mais reciclável do mundo. Pode ser reaproveitada integralmente e por várias vezes, o que ajuda a reduzir o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa. Das 135 mil toneladas mensais de resíduos domiciliares coletadas na cidade do Rio, apenas 9% dos 35% potencialmente recicláveis são transformados em aço, de acordo com a Comlurb. A grande maioria vem mesmo de atividades industriais. —Quem não recicla está enterrando riqueza e gerando um passivo ambiental gigante —diz Bruno Baltar, segunda geração da empresa de sucata Metalpronto, fundada em 1989. —Quando o processo de uma siderúrgica é à base de sucata, o consumo de energia é 65% menor do que quando é feito com minério de ferro. Além de economizar energia, preserva o meio ambiente. Mas é preciso ter olhar apurado. Pode parecer tudo igual, mas não é. Nos pátios chega de tudo, junto e misturado: plástico, papelão, cobre, alumínio. O quilo de sucata ferrosa, a mais bem avaliada no mercado, custa entre R$ 0,80 e R$ 1. E chega é coisa por lá.

Para fazer essa mágica acontecer, a sucata virá de 50 fornecedores de todo o país. Mas metade de tudo o que será visto no palco vem mesmo do Rio, de lugares como o pátio de sucata do Santo Cristo, onde Eduardo Campos, de 20 anos, começou a trabalhar há menos de um mês. Lá, ele recolhe e separa material. O jovem não tinha ideia do universo escondido em meio a tanto ferro. —Aprendi que o que sai daqui pode virar várias coisas, mas nunca imaginei que pudesse se transformar num palco —conta o jovem, que gosta de ouvir pagode, trap e hip-hop, mas nunca imaginou ter um dedinho sequer no festival.

Há 20 anos, Barrinho, de 53 anos, cruza a cidade resgatando o que não serve mais para algumas pessoas. Quando soube que a sucata que recolhe vai virar o palco onde estará Ivete Sangalo, ele logo se animou: —Gosto dela para caramba. É só me chamar que eu vou e ainda levo um caminhão de sucata.

Rio

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2022-06-26T07:00:00.0000000Z

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