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Monkeypox: cautela sem pânico

RECEITA DE MÉDICO David Uip Infectologista, reitor licenciado do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC e membro do Comitê Científico do Estado de SPC

No último dia 9 foi confirmado, em São Paulo, o primeiro caso da varíola dos macacos (monkeypox) no Brasil. A memória recente dos piores dias da pandemia de Covid-19 contribuiu para certo alarde em torno da nova doença. Mas não há necessidade de um temor exagerado, pois há diferenças fundamentais entre as situações. A Covid-19 fez com que a população passasse a se preocupar mais com as doenças virais. Isso até pode ser positivo se for para garantir que adotem cuidados básicos como as medidas de higiene das mãos e etiqueta sanitária, que ajudam a prevenir infecções. No caso da monkeypox, não é necessário criar pânico, longe disso. O novo coronavírus é de transmissão respiratória, e altamente contagioso. A varíola não é assim. Nada indica que se torne uma pandemia parecida com a qual convivemos há mais de dois anos.

É preciso esclarecer, de imediato, que a varíola dos macacos, a priori, é uma enfermidade muito mais branda que a varíola humana, erradicada há mais de 40 anos após uma bemsucedida campanha de vacinação pelo mundo. O vírus da varíola dos macacos foi identificado pela primeira vez nos anos 1970, na República Democrática do Congo, e durante as décadas seguintes migrou de países da África Ocidental, como a Nigéria, para outros continentes, com ocorrências no Estados Unidos e em Israel. O “fato novo” é que a doença chegou a alguns países da Europa, como Inglaterra, França e Espanha. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) o número de casos aumentou dez vezes entre 2010 e 2019. E esse aumento nas últimas décadas tem uma explicação lógica, já que a transmissão é bastante conhecida. Hoje, por conta da rapidez com que as pessoas se deslocam de um lugar para outro, é muito fácil que um vírus viaje. Então, assim que passaram a ser relatados casos na Europa, era esperado que a doença chegasse ao Brasil. O quadro clínico é muito parecido com o de outras doenças virais, caracterizado por febre, mal estar, dores e lesões espalhadas pelo corpo. O vírus é transmitido somente com contato próximo, corpo a corpo, ou por meio de objetos em que o vírus tenha se alojado, como lençóis e toalhas de banho. Como já é de praxe, existem protocolos para os casos suspeitos. O indivíduo que apresenta sintomas compatíveis com a doença é isolado. Dependendo da gravidade dos sintomas o paciente é internado. O serviço de vigilância contacta com as pessoas que tiveram contato próximo com esse paciente durante o período de incubação, que é de três a vinte dias. Caso esses indivíduos não apresentem sinais da doença, são liberados. Se houver manifestação clínica, o paciente passa a ser acompanhado. A vacina que costumava ser administrada contra varíola pode ter alguma eficácia contra a doença, mas isso ainda está sendo estudado. Ela parou de ser aplicada no Brasil na década de 1980, porque a doença já não tinha mais registros no nosso país. Existem discussões para retomar essa vacinação, além de um monitoramento intenso. O vírus só irá representar um risco maior para a saúde pública caso consiga se espalhar para grupos mais propensos a risco de doenças graves, como crianças pequenas, idosos e pessoas que já tenham uma imunidade mais baixa por conta de doenças genéticas ou crônicas. As autoridades de saúde já estão tomando os devidos cuidados com a doença. Em São Paulo, o Conselho Gestor da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde, formado por especialistas do antigo Comitê Científico que norteou o enfrentamento da Covid-19, vem debatendo permanentemente o cenário epidemiológico da varíola dos macacos no país, bem como seus possíveis desdobramentos.

Como sempre, é bom ter cautela, porque toda doença deve ser levada a sério. Mas mantendo os cuidados e a vigilância é perfeitamente possível controlar o vírus.

Toda doença deve ser levada a sério. Mas mantendo os cuidados e a vigilância é perfeitamente possível controlar esse vírus

Saúde

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2022-06-26T07:00:00.0000000Z

2022-06-26T07:00:00.0000000Z

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