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Nas lojas, ‘Pantanal’ é tendência

Sucesso da TV aquece vendas de berrantes a roupas de “oncinha” e inspira até corte de cabelo “Juma”.

JÉSSICA MARQUES* E CAMILLA ALCÂNTARA economia@oglobo.com.br

Amáxima de que a vida imita a arte tem sido verdadeira no remake da novela “Pantanal”, 32 anos depois da primeira versão. O interesse crescente pela trama que estreou em 28 de março na TV Globo, chegou ao comércio, do popular ao mais sofisticado, estimulando a demanda por berrantes, roupas e até viagens e cortes de cabelo inspirados nos de personagens, com destaque para o look Juma Marruá. Donos de diferentes tipos de negócio aproveitam o momento em que a novela volta a ditar tendências de consumo “para engordar o gado”.

Nos salões de beleza, clientes buscam a “transformação natural” para se aproximar do visual da atriz Alanis Guillen, que interpreta Juma. Em São Paulo, o hair stylist Eron Araújo desenvolveu uma técnica para aumentar o volume e dar a cabelos compridos um ar mais “selvagem”. Ele testou o corte “Juma” —que está disponível por R$ 750 —nos cabelos de Sophia Chenuc, de 18 anos, filha de uma cliente. —Amei o resultado, porque não preciso ficar fazendo progressiva. Meu cabelo fica mais natural e lindo — comemorou a estudante.

NOVELA ATRAI JOVENS

No salão de Celso Kamura, também na capital paulista, a procura pelo corte blunt bob da personagem Guta, vivida pela atriz Julia Dalavia, aumentou 30% desde o início da novela e já é o mais pedido. Em segundo lugar está a coloração ruiva, que as clientes pedem tendo Irma, papel de Camila Morgado, como inspiração. O custo pode chegar a R$ 750, dependendo do comprimento. Em Ribeirão Preto, Bianca Félix, cabeleireira do Studio W, conta que clientes chegam ao salão pedindo cabelos mais naturais, como os de Maria Marruá (Juliana Paes) e Filó (Dira Paes). Para quem tem o cabelo muito escuro e quer dar um efeito “queimado de sol” nas pontas parecido com o das madeixas de Juma, é possível iluminar os fios com ar natural. As transformações podem custar perto de R$ 1 mil. No tradicional comércio popular de Madureira, na Zona Norte do Rio, estão em alta roupas com estampas animal print, principalmente as de onça. Lojistas estimam alta de 40% nas vendas desses itens desde o início da novela. Blusas e croppeds de “oncinha” variam entre R$ 30 e R$ 40, mas no atacado saem por menos de R$ 20. Uma campeã de vendas é a calça legging com estampas de onça, por R$ 30. —A novela ajudou o comércio criando uma tendência de moda —diz Ricardo Pereira, dono da Melky Modas, uma das lojas de Madureira. A bibliotecária Júlia Alves, de 35 anos, é uma das consumidoras que se diz influenciada por “Pantanal”. Ela viu o reprise da novela, aos 11 anos, e hoje não perde um capítulo: —Minhas garrafinhas, roupas de malhar e de sair, tudo meu agora é com estampa de onça. Meus amigos brincam e me chamam de Juma Marruá. Eu adoro porque de fato me identifico com a personagem. Ela é forte e sabe o que quer. E eu também. Para a coordenadora do Centro de Estudos de Telenovela da ECA/USP, Maria Immacolata Lopes, a nova versão de “Pantanal” pode ser considerada um “fenômeno midiático” e parte do sucesso vem do do fato de ter conquistado os jovens com um retrato do “Brasil profundo” que eles não conheciam. As redes sociais ampliam a febre. —A novela aborda pautas atuais na trama. Por isso, Pantanal é muito querida pelo público jovem. A linguagem é jovial, diferente do que foi a primeira versão —diz a pesquisadora.

Apesar de ser um enclave nordestino no Rio, a Feira de São Cristóvão, na Zona Norte, tem uma loja de artigos do Pantanal. O Bazar Potiguar — apesar do nome em referência ao Rio Grande do Norte, onde nasceu o dono, Faustino Lucinaldo —especializou-se em artigos da região que é cenário da novela. Entre os produtos mais vendidos estão os berrantes, de diferentes tamanhos, que variam de R$ 30 a R$ 300. Também estão em alta chapéu de couro (R$ 60), botas com fivelas (R$ 120), cuias e ervas de chimarrão (de R$ 30 a R$ 40) e canecas de chifre de boi (R$ 45). Segundo o proprietário, o movimento aumentou 70% desde abril:

—Sou o único que vendo esses produtos aqui há um tempo. A novela impulsionou as vendas. As pessoas têm curiosidade em saber se de fato os acessórios usados pelos atores são reais.

Em Campo Grande (MS), a 067 Vinhos identificou, desde o início da novela, um aumento de 17% nas vendas da garrafa com o rótulo “Comitiva Pantaneira”, que homenageia o bioma brasileiro. A empresa tem vendido muito pela internet, particularmente para clientes de São Paulo.

IMPACTO NO TURISMO

As aventuras pantaneiras na tela estimulam novos hábitos. A Escola de Equitação Hermes Vasconcellos, no Rio, atribui à novela a alta de 30% nas matrículas desde abril. Com 45 minutos de aula, duas vezes por semana, alunos aprendem a cavalgar em pouco tempo, diz o instrutor Bernardo Jeolás. A mensalidade fica entre R$ 450 e R$ 920. Outros serviços que cresceram com a novela foram os do turismo para o Pantanal, considerado um dos melhores do mundo para observar natureza selvagem. De abril a junho, as buscas aumentaram 118% —quando comparado com o mesmo período pré-pandemia — na CVC. Na Decolar, o crescimento foi de 160%, no mesmo período. Os pacotes de cinco dias variam de R$ 1.869 (saindo de Cuiabá) a R$ 2.199 (saindo de Brasília, Porto Alegre, SP e RJ), incluindo hospedagem e passeios, de acordo com a Hurb.com, que identificou alta de 49% na procura de viagens para cidades do Pantanal.

—O destino passou a ser um dos mais procurados. Entre as origens mais escolhidas, estão São Paulo, Porto Alegre e Rio —diz Paulo Pimentel,

diretor comercial do Hurb. Em Cuiabá (MT), a chef Ariane Malouf, de 43 anos, criou um menu inspirado no Pantanal e estima aumento de 20% no movimento em quatro meses. O maior interesse é pelo “Pintado grelhado com crosta de castanha do Pará”, prato considerado típico do Pantanal, que custa R$ 98. Para acompanhar, a chef recomenda outra bebida local: gin de manga (R$ 39). —Trazer o Pantanal às telas é mais do que mostrar a beleza. É falar da história de um povo, uma cultura que precisa ser preservada na gastronomia popular —diz a chef. *Estagiária sob supervisão de Alexandre Rodrigues

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