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INVESTIGAÇÃO SOBRE BOLSONARO PRECISA SEGUIR ADIANTE

Suspeitas de ingerência na PF para favorecer ex-ministro Milton Ribeiro são graves demais para ser ignoradas

Acossado por um turbilhão de crises e más notícias — entre elas, as pesquisas eleitorais desfavoráveis —, o presidente JairBol sonar o tentou desesperadamente conter os danos do último escândalo, a prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, e até tirar proveito da situação. Em entrevista a uma rádio, disse que o episódio era sinal de que a Polícia Federal (PF) agia com independência, sem interferência do Planalto. Não demorou muito para esse discurso ruir de forma fragorosa sobre ele próprio. Gravações da PF com autorização da Justiça sugerem o contrário. São convincentes os indícios de interferência de Bolsonaro nas investigações e, tão grave quanto, de ele ter vazado detalhes da operação que levaria à prisão de Ribeiro e de pastores acusados de transformar o MEC num balcão de negócios. Em telefonema à filha, em 9 de junho, Ribeiro disse ter recebido ligação de Bolsonaro para falar do caso: “O presidente me ligou. Ele acha que vão fazer busca e apreensão”. Fatos como esse serviram deba separa o juiz Renato Borelli, da15ª Vara Federal de Brasília, decretara prisão de Ribeiro e dos pastores, depois soltos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). Não são os únicos sinais de ingerência indevida. O delegado responsável pelo caso, Bruno Calandrini, enviou mensagem a colegas queixando-se de procedimentos incomuns. Disse que houve interferência da cúpula da PF para que, após a prisão, Ribeiro não fosse transferido de São Paulo a Brasília, como determinara a Justiça. Afirmou que Ribeiro foi tratado “com honrarias não existentes na lei” eque, diante da interferência, não tinha “autonomia investigativa e administrativa” para conduzir o inquérito “com independência e segurança institucional”. A despeito da competência e do profissionalismo da PF, até as emas do Palácio da Alvorada sabem das reiteradas tentativas do presidente Jair Bolsonaro para controlara corporação e submetê la aos seus desígnios para proteger familiares e amigos. É oque ficou explícito noca soque levou às aída de Ser gio Moro do ministério. Na fatídica reunião de 22 de abril de 2020, Bolsonaro foi claro ao dizer que precisava se manter informado: “Não dá para trabalhar assim. Fica difícil. Por isso vou interferir. E ponto final, pô”. Ele é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de interferir na PF.

Mais uma vez, a nação assiste perplexa a uma denúncia grave envolvendo o presidente da República. Já é um escândalo que verbas públicas destinadas a manter e aprimorar o combalido sistema educacional brasileiro sejam pilhadas por quadrilhas abrigadas dentro do MEC. O escândalo ganhará outra dimensão se ficar comprovado que o presidente da República interferiu nas investigações e avisou o ex-ministro das ações em curso.

Na sexta-feira, a Justiça Federal encaminhou o caso ao STF. No Congresso, senadores tentam instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito do MEC. Em três ano semeio de mandato, Bolso naro,c oma providencial colaboração da Procuradoria-Geralda República, tem si dobem-sucedi doem se livrar das mais diversas acusações (passou ileso pela gestão criminosa da pandemia que matou centenas de milhares). Emano eleitoral, dado o aparelhamentodas instituições pelobol sonar ismo,é improvável que as investigações avancem. Mas é obrigação das autoridades levá-las adiante. As suspeitas são graves demais para ser ignoradas.

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2022-06-26T07:00:00.0000000Z

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