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RECONSTRUIR PARA LEMBRAR

Filho caçula do poeta Thiago de Mello, morto na sexta-feira passada, dia 14, aos 95 anos, o compositor Thiago Thiago de Mello iniciou em seu perfil no Facebook uma campanha de arrecadação de fundos para reformar a casa histórica do pai, em Barreirinha, no Amazonas. Batizada de Flor da Mata — e, posteriormente, de Casa da Poesia — ela está localizada na Ponta da Gaivota, nome como é conhecido o finalzinho da praia de Freguesia do Andirá, banhada pelo rio de mesmo nome, onde fica parte da terra indígena do povo Saterê-Maué. Thiago de Mello a construiu em 1987, a partir de um projeto do arquiteto Lúcio Costa no mesmo local.

— Nos últimos dois anos a casa vem sofrendo com as altas cheias dos rios e as intempéries da natureza, que comprometeram seriamente a sua estrutura — diz Thiago, que não descarta transformar o local em um centro cultural no futuro. — Vigas e esteios que já apodrecem, as tábuas do assoalho que teimam em se desgarrar, o telhado quebradiço, o grave avanço do terrível cupim de terra, as escadas que perdem os degraus, os defeitos da parte hidráulica e da rede elétrica. Nossa meta é alcançarmos R$ 50 mil para fazermos a reforma, que teve início em dezembro de 2021 e segue firme. Perseguido pela ditadura militar, o poeta Thiago de Mello voltou do exílio em 1978 e, até sua morte, nunca mais deixou o Amazonas. Além da atual Casa da Poesia, o autor de “Os estatutos do homem” teve outras duas casas em Barreirinha: a Porantim do Bom Socorro e a Casa do Ramos. Ambas foram vendidas para o estado do Amazonas e repassadas para a prefeitura de Barreirinha. Há um processo de tombamento em andamento no Iphan. Entre os visitantes ilustres das residências estiveram o pintor italiano Roberto Sambonet, o poeta nicaraguense Ernesto Cardenal e o pianista americano Richard Kimball, entre outros.

— As casas que foram vendidas infelizmente se encontram há muitos anos em estado de decadência — diz Thiago Thiago. — Estive agora em Barreirinha e a secretaria de Cultura do município me informou que há vontade de recuperar essas casas. Mas é um processo complicado. Já são décadas que estão em processo de deterioração.

O músico também conta que está finalizando o livro “Uma varanda no meio do rio”, reunião de poemas, letras de música e outros escritos em prosa, além de cartas de Thiago de Mello para ele e cartas do seu avô para o seu pai.

(Bolívar Torres)

Segundo Caderno

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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