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Pico da Ômicron ocorre de 4 a 6 semanas após início

Estudo das curvas de infecção em outros países revela padrão de explosão e queda de casos

CONSTANÇA TATSCH constanca.tatsch@oglobo.com.br

Desde que foi identificada em novembro, na África do Sul, a Ômicron vem provocando explosões de casos de Covid em todo o mundo. O estudo das curvas de casos nesse país e no Reino Unido, no Canadá e na Austrália revela que o auge da contaminação ocorre de quatro a seis semanas, e aí começa a cair. Para o infectologista Julio Croda, é provável que o padrão se repita no Brasil. “Se considerarmos a semana entre o Natal e o ano-novo como início da curva epidemiológica, teremos o pico no começo de fevereiro”, diz Croda.

Em vez de uma nova onda, a variante Ômicron do coronavírus tem se mostrado um verdadeiro tsunami, provocando explosões de casos pelo mundo inteiro. Desde sua identificação, na África do Sul, em novembro, atravessou vários países antes de chegar ao território brasileiro. As experiências prévias já revelaram um padrão na cepa, que, caso se repita por aqui, coloca o Brasil a duas ou três semanas do auge de infecções, seguido pela queda rápida de casos.

A variante mostrou comportamentos similares em países como o Reino Unido, Canadá, Austrália, além da própria África do Sul. A Ômicron costuma provocar entre quatro e seis semanas de sucessivas altas de casos, até começar a cair novamente. A boa notícia é que o ponto de virada em geral antecede o início de uma baixa acelerada. Considerando como marco inicial no Brasil o período das festas de fim de ano, estaríamos a menos de um mês da guinada favorável.

— Vamos observar essa curva aqui, e o estado onde isso será visto precocemente é São Paulo, que teve os primeiros casos. No entanto, como teve réveillon e férias, houve uma sincronização entre as regiões. É um tsunami que vem e vai muito rapidamente. Se considerarmos a semana entre Natal e Ano Novo como início da curva epidemiológica, teremos o pico no começo de fevereiro para depois começar a queda. Isso, claro, se o nosso padrão epidêmico for semelhante — analisa o infectologista Julio Croda, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Atualmente, o Brasil está em plena curva ascendente. Ontem, o país atingiu recorde na média móvel de casos, com 83.630 registros, um crescimento de 575% em relação a 14 dias atrás, superando os 77.295 de 23 de junho.

Na África do Sul, que viu se desenrolar a primeira onda da Ômicron, a pior fase ficou para trás. Depois dos primeiros casos em novembro, atingiu o auge em 17 de dezembro, com 23 mil positivos, e hoje está no patamar de 4.636 infecções, comparável ao primeiro mês da onda.

O Reino Unido já consolidou a mesma curva, embora ainda mantenha um número bem alto de infecções, já que a maré chegou depois. Mais recentemente, Canadá, Austrália e cidades populosas dos Estados Unidos, como Nova York, também já observam o número de casos despencar.

Segundo Croda, o platô observado em outras ondas da Covid não se repete com a Ômicron porque a taxa de transmissão é quatro vezes maior do que o vírus original e não há medidas restritivas desta vez. Depois, quando o vírus não encontra pessoas suscetíveis, ou porque estão muito bem protegidas pela vacinação ou porque já foram infectadas, ocorre a queda drástica.

A professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel, que tem pós-doutorado em epidemiologia pela Universidade Johns Hopkins, considera a Ômicron “mais explosiva” do que as outras cepas do Sars-CoV-2, por isso apresenta uma curva tão aguda. Mas alerta que a falta de dados prejudica a visão clara do momento atual:

— O problema no Brasil é o de sempre: não temos testes, e, com o apagão de dados, temos menos noção ainda do que está acontecendo. É difícil cravar com precisão acertada —afirma.

Outros fatores regionais podem interferir. Os médicos temem um repique no fim das férias e volta às aulas ou, ainda, no carnaval. Por isso, é importante que haja forte investimento na dose de reforço para toda a população e aceleração na vacinação das crianças.

O infectologista Filipe da Veiga explica que há formas de induzir essa queda.

—Vejo que alguns países caem mais rápido que outros. O ‘Vaccines-plus’ é uma sequência de orientações dadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no fim de 2021, que se somam à vacina: autotestes, isolamento por sete dias e uso de máscaras melhores, que não de pano, para reforçar a barreira. Os países que adotam testagem maciça e autoisolamento em duas semanas têm 30% de queda de casos —afirma Veiga.

Para o médico, embora tudo indique que a onda atual vai ser mais breve, não dá para relaxar nos cuidados:

— Acho que alguns estados podem enfrentar colapso no sistema de saúde. As vacinas ditam como vão ser mortes e internações, mas é o comportamento humano que dita a transmissão.

SEM PRECIPITAÇÃO

A OMS também evita comemorar antes da hora. O diretor-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou ontem que ainda há muita luta contra a doença pela frente.

—Esta pandemia está longe de terminar, e dado o incrível crescimento da Ômicron em todo o mundo, é provável que surjam novas variantes — disse Adhanom, em entrevista coletiva em Genebra, na Suíça. — Em alguns países, os casos de Covid parecem ter atingido o pico, dando esperança de que o pior desta última onda já passou, mas nenhum está fora de perigo.

O exemplo de outras nações traz, além de esperança, informações úteis. Para Julio Croda, é fundamental usar o conhecimento das curvas epidemiológicas alheias para que o poder público brasileiro se organize:

—A mensagem é que a gente tem que aprender com outros países e planejar melhor. Não é surpresa o que vai acontecer em poucas semanas, por isso precisamos investir em leitos de enfermaria e testes para a população.

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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