Adolescente ambientalista é assassinado na Colômbia

Conselho indígena regional atribui crime a dissidentes das Farc; país é considerado o mais perigoso para defensores da natureza

Oadolescente Breiner David Cucuñame, de 14 anos, considerado um ativo defensor do meio ambiente na Colômbia, foi morto quando acompanhava um grupo de guardas indígenas em uma reserva na zona rural do município de Buenos Aires, no Norte do departamento (estado) de Cauca. Embora não haja confirmação oficial da autoria, eles teriam sido atacados por dissidentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia( Farc ), que não aderiramao acordo de paz selado há mais de cinco anos.

O crime ocorreu na sextafeira, mas foi divulgado na noite de anteontem. Segundo a Associação dos Conselhos Indígenas do Norte de Cauca (Acin), os dissidentes da Farc, que hoje integram grupos considerados puramente criminosos, dispararam contra os guardas na reserva Las Delicias. O ataque resultou na morte de Guillermo Chicame, que fazia a segurança de Fabián Camayo, líder da reserva eque ficou ferido.

A troca de tiros continuou, e Bre in erDavidf oi baleado pouco depois. Segundo testemunhas, ele acompanhavas eu pai, Samuel, após o dia de trabalho. Eles teriam ido alertar os guardas indígenas sobre a presença do grupo de agressores, identificado como a Coluna Móvel Jaime Martínez.

Breiner David fazia parte da Guarda Indígena Estudantil de Las Delicias, organização de proteção a comunidades autóctones. O rapaz era considerado um líder ambiental na região.

‘CUIDADOR DA TERRA’

A ACIN saudou Breiner David como um “cuidador da Mãe Terra”. “A morte do jovem Breiner David Cucuñame, porta-estandarte da proteção ambiental em sua comunidade de Cauca, nos enche de tristeza”, reagiu o presidente da Colômbia, Iván Duque, em suas redes sociais, pedindo celeridade ao Ministério Público para esclarecer os fatos.

A Colômbia foi identificada por dois anos consecutivos pela ONG Global Witness como o país mais perigoso para os ativistas ambientais. Dos 227 assassinatos de ambientalistas registrados em 2020 no mundo, 65 ocorreram na Colômbia.

Em seu relatório mais recente, a Global Witness destaca que os povos indígenas são os mais afetados pela violência colombiana, que envolve quadrilhas e grupos paramilitares que disputam o controle do tráfico de drogas e da mineração ilegal, além do último grupo guerrilheiro em atividade no país, o Exército de Libertação Nacional (ELN).

As áreas mais afetadas hoje pela violência são aquelas como Cauca, onde as Farc atuavam antes do acordo de paz, que levou à desmobilização de cerca de 11 mil guerrilheiros. Entidades como o Indepaz (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz) afirmam que o governo não tem sido ágil o suficiente na implementaçãodas cláusulas sociais e econômicas do acordo de 2016, que previa que os serviços do Estado ocupariam os espaços deixados pela guerrilha.

Em recente entrevista ao GLOBO, Leonardo González Perafán, coordenador do Indepaz, disse que “a lentidão do processo de paz pode levar aseu fracasso absoluto ”.

— Onde havia esperança, hoje vemos desesperança — apontou o pesquisador.

ROL DE VÍTIMAS

Pode-se considerar Breiner David Cucuñame como o primeiro ambientalista assassinado em 2022 em um país onde ocorre com frequência esse tipo de crime. Pelo menos 78 defensores de direitos humanos foram mortos na Colômbia no ano passado, segundo um relatório divulgado na semana passada pelo Escritório de Direitos Humanos da ONU. Outros 29 casos que chegaram à organização ainda estão sendo investigados. A Ouvidoria colombiana, por sua vez, contabilizou nesta semana 145 líderes sociais e defensores de direitos humanos assassinados no país em 2021.

A ONU condenou o ataque à reserva indígena.