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Alemanha está disposta a pagar ‘alto preço’ para proteger Ucrânia

Em Moscou, chefe da diplomacia alemã questiona movimentação de tropas russas na fronteira, mas Lavrov rejeita exigências

MOSCOU

Um dia depois de sinalizar que poderia inviabilizar o funcionamento do gasoduto Nord Stream 2, em resposta a uma possível invasão russa à Ucrânia, a chefe da diplomacia alemã reforçou a ameaça e disse ontem que a Alemanha está disposta apaga rum “alto preço econômico” para defender o que vê como valores fundamentais.

Durante visita a Moscou, onde se encontrou com o chanceler russo, Sergei Lavrov, Annalena Baerbock questionou o diplomata sobre as movimentações de tropas per todas fronteiras coma Ucrânia, algo visto por governos ocidentais e pelas autoridades em Kiev como sinais de uma invasão iminente.

— Nas últimas semanas, mais de cem mil militares e equipamentos militares russos foram posicionados perto da Ucrânia, sem motivo aparente — declarou Baerbock, em declarações reproduzidas pela agência Interfax.

Mesmo reiterando a importância do fornecimento de gás russo para a Alemanha —quase todo o gás usado pelo país é importado, e boa parte vem da Rússia —Baerbock disse que o uso político do combustível teriac ons e quências. Nas entrelinhas, referiu-se a um eventual cor tedas exportações por parte das empresas russas.

— A Alemanha reiterou que, caso a energia seja usada como arma, isso teria consequências para o gasoduto [Nord Stream 2] —disse a ministra.

Hoje, o Nord Stream 2, controlado pela gigante energética russa Gazprom, está concluído e teria a capacidade de dobrar o fornecimento de gás russo pelo Mar Báltico, mas aguarda o sinal verde das autoridades regulatórias alemãs.

O partido de Baerbock, Os Verdes, é contra o projeto, citando questões ambientais e geopolíticas, mas seus parceiros majoritários na coalizão de governo, os social-democratas, o apoiam, hoje de forma menos entusiasmada: ontem, o chanceler Olaf Scholz alertou sobre retaliações no caso de uma invasão, sem mencionar o gasoduto.

— Está claro que haverá um alto preço a pagar, e tudo precisará ser discutido no caso de uma intervenção militar na Ucrânia — declarou Scholz, depois de reunião com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

ENCONTRO LAVROV-BLINKEN

No passado, Scholz defendia que o projeto, estimado em US$ 11 bilhões, fosse encarado apenas como uma iniciativa comercial.

Como esperado, a franqueza da chefe da diplomacia alemã, país que mantém longas e estáveis relações com a Rússia, recebeu uma resposta dura de Lavrov: o chanceler declarou que não aceitará exigências sobre movimentações de tropas dentro das fronteiras da Federação Russa, e negou que existam planos para uma invasão.

— Não estamos ameaçando ninguém, mas estamos ouvindo ameaças contra nós. Seremos guiados por etapas específicas, ações específicas e, dependendo das medidas específicas que nossos parceiros tomarem, determinaremos nossas reações — declarou Lavrov. — Quando às consequências [sanções contra o Nord Stream 2], não demos nenhuma razão para criar uma situação de conflito.

Além de Baerbock, Lavrov falou por telefone com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, que não participou presencialmente da maratona de negociações envolvendo Rússia, EUA, Otan e a Organização para a Coopeeração de Segurança da Europa na semana passada.

Citando as conversas, que terminaram em impasse, Blinken “reforçou a importância de seguir pelo caminho diplomático para reduzir as tensões em torno da extremamente preocupante mobilização militar russa perto da Ucrânia”, segundo nota do Departamento de Estado. A conversa ocorreu horas antes de uma viagem do secretário à Ucrânia.

“O secretário reiterou o compromisso dos EUA com a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e reiterou que qualquer discussão sobre a segurança da Europa deve incluir os aliados da Otan e os parceiros europeus, incluindo a Ucrânia”, diz o texto. Blinken e Lavrov acertaram que vão se encontrar em Genebra na sexta-feira para discutir a crise. O governo de Kiev não foi incluído nas conversas da semana passada e, ao sugerir uma nova série de reuniões entre a Rússia e a Otan, ontem, Stoltenberg não fez menção a um convite aos ucranianos.

MANOBRAS NA BIELORRÚSSIA

O secretário-geral da aliança militar afirmou, ainda, que enviará uma série de propostas a Moscou, centradas no controle de armas e mecanismos de transparência em atividades militares, mas não revelou se responderia às demandas feitas pela Rússia, que tratam da expansão da Otan para o Leste Europeu e um veto à entrada da Ucrânia.

As suspeitas em relação a uma possível invasão russa à Ucrânia começaram a surgir em meados de 2021, em meio ao acirramento das relações entre a Rússia e a Otan, que chegaram a romper laços diplomáticos no ano passado, depois da expulsão de diplomatas russos da sede da aliança em Bruxelas, sob acusação de serem agentes infiltrados de Inteligência.

Moscou vê a expansão da Otan rumo às suas fronteiras como uma ameaça, e pontuou que a eventual inclusão de Kiev como membro seria uma “linha vermelha”. Desde a revolução que derrubou o governo pró-Moscou de Viktor Yanukovich, em 2014, as relações entre os dois países são hostis, algo agravado pela anexação da Crimeia pela Rússia e pelo conflito no Leste ucraniano, onde Moscou é acusada de apoiar grupos separatistas.

Neste cenário, além do reforço nos contingentes em áreas de fronteira com a Ucrânia, o Kremlin deu sinal verde a exercícios militares com a Bielorrússia. Imagens publicadas em redes sociais mostraram veículos blindados sendo transportados por trem para as áreas designadas de operações, e o presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, afirmou que os exercícios eram uma preparação para possíveis ações vindas de nações da Otan ou da Ucrânia.

“A Alemanha reiterou que, caso a energia seja usada como arma, isso teria consequências para o _ gasoduto”

Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha

“Não estamos ameaçando ninguém, mas estamos ouvindo ameaças contra nós. Seremos guiados por etapas específicas, ações específicas e, dependendo das medidas específicas que nossos parceiros tomarem, determinaremos nossas reações” _

Sergei Lavrov, chanceler russo

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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