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Endividamento das famílias atinge 70,9%, o maior em 11 anos

Pesquisa da CNC mostra que brasileiros buscam crédito para consumir

JULIA NOIA julia.silva@oglobo.com.br

Oendividamento das famílias brasileiras chegou a 70,9% em 2021, o maior nível em 11 anos. O patamar mais crítico foi atingido em dezembro, quando 76,3% das famílias informaram ter contraído dívidas, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada ontem pela Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Os números mostram que os brasileiros estão recorrendo mais ao crédito para conseguir manter o consumo, segundo a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa. Ela aponta diferenças entre os motivos que levaram ao endividamento, de acordo com a faixa de renda. Famílias com renda mensal de até dez salários mínimos foram pressionadas pela inflação de dois dígitos, que reduziu o poder de compra.

— Em 2021, tivemos um aumento de serviços essenciais acima da inflação, como habitação, transporte, alimentação e medicamentos, dos quais as pessoas não podem abrir mão — explica Izis.

Entre os mais ricos, o endividamento foi puxado por setores que se beneficiaram do avanço da vacinação e da flexibilização das medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19, com destaque para turismo e serviços de beleza.

— O processo de imunização da população possibilitou a flexibilização da pandemia, refletindo no aumento da circulação de pessoas nas áreas comerciais ao longo do ano, o que respondeu à retomada do consumo — ressalta o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

Além disso, afirma Izis, muitos quiseram aproveitar o crédito barato, com taxa de juros perto de 2% no primeiro semestre, para contratar financiamentos para carros e imóveis.

NA RENDA MENOR, 72,1%

O percentual de famílias endividadas foi maior entre as que ganham menos de dez salários mínimos. Nesse grupo, o endividamento atingiu patamar recorde de 72,1%, com aumento de 4,3 pontos percentuais ante 2020. Já para pessoas com renda superior a dez mínimos, a taxa ficou em 66%, mas o crescimento foi de 5,8 p.p.

O cartão de crédito é a principal forma de contração de dívida, sendo usado por 82,6% dos endividados, um aumento de 4,6 p.p. em comparação com 2020. Na sequência, vêm carnê (18,1%), financiamento de carro (11,6%) e crédito imobiliário (9,1%).

A CNC calcula que, entre os mais pobres, as dívidas corroem, em média, 30,8% da renda, contra patamar de 27,6% entre os mais ricos. Nos dois grupos, mais de 50% dos endividados comprometem de 11% a 50% da renda.

Com o crescimento do indicador de atraso de contas nos últimos meses de 2021, Izis acredita que o cenário deve se manter neste início de ano. Ela cita um cenário de juros e inflação altos e dificuldade de recuperação do mercado de trabalho formal, aliados ao vencimento de despesas típicas do primeiro trimestre.

Dessa forma, ela estima que o endividamento das famílias permaneça acima dos 70%.

Segundo a CNC, a inadimplência ficou praticamente estável, com ligeira queda de 0,3 pontos percentuais, e fechou 2021 em 25,2%. Um em cada dez brasileiros continua sem condições de pagar suas dívidas.

Economia

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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