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Após mais de 20 anos de espera, uma indenização de R$ 2,3 milhões

Grupo de 58 funcionários do Mappin está entre os últimos a receber direitos

JOÃO SORIMA NETO joao.sorima@sp.oglobo.com.br

Quando entrou no Mappin, em 1997, para trabalhar como caixa, Roberta Barbosa, de 48 anos, não imaginava que a loja de departamentos —que marcou época no comércio varejista de São Paulo desde o início do século passado e até então era um ícone do comércio —estava com os dias contados. Dois anos depois, endividado e com os fornecedores se recusando a entregar mercadorias, o Mappin teve a falência decretada pela Justiça. Só vinte anos depois, Roberta conseguiu receber a indenização, que soma atualmente R$ 6 mil.

—Vou usar para reformar o carro. A gente não acreditava que uma empresa daquele tamanho e que sempre esteve em ascensão estivesse falindo. Mas de uma hora para outra, as prateleiras foram ficando vazias. Um dia, estava indo trabalhar e uma amiga avisou: ‘nem venha, as portas da loja foram lacradas’ —relembra Roberta que depois trabalhou por 16 anos nas Lojas Renner e hoje atua como cabeleireira.

Assim como Roberta, outros 57 funcionários esperaram duas décadas por uma indenização que soma R$ 2,3 milhões. Um único exempregado tinha R$ 1,2 milhão a receber, como antecipou a Folha de S.Paulo.

É praticamente o último grupo de empregados a receber os direitos pelos anos de trabalho na empresa, que no auge chegou a ter 11 mil funcionários e ações negociadas na Bolsa. Quando faliu, tinha cerca de 5 mil empregados. Ao menos 4,5 mil já receberam seus direitos.

—Há ainda um grupo de funcionários que trocou de endereço e telefone e estamos tentando localizar. A maior parte já recebeu a indenização —afirma o advogado Marcello D'Aguiar, do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.

Valquíria Custódio Cândido, de 46 anos, tem pouco mais de R$ 2 mil a receber. A essa altura, já nem esperava mais. Ela trabalhou como repositora de perfumaria por sete meses, na unidade da Rua São Bento, no Centro de São Paulo. Foi seu primeiro emprego com carteira assinada. Hoje, ela também trabalha como cabeleireira e vai usar o dinheiro para compor uma reserva financeira.

A empresa faliu em 1999. Hoje, o processo tem 50 mil páginas e precisou ser digitalizado durante a pandemia para que as ações continuassem em andamento. D’Aguiar conta que o pagamento das indenizações, duas décadas depois da falência, só está sendo possível porque o Mappin tinha bens, principalmente imóveis, que foram a leilão. Mas ainda faltam os bancos e os credores sem garantia real para o pagamento do crédito. Os trabalhadores são os primeiros a serem indenizados.

Douglas da Silva, que completa 60 anos este ano, trabalhou 17 anos no Mappin. Entrou como operador de computadores e saiu como gerente de TI, quando a empresa faliu. Ele conta que mantém um grupo de Whatsapp com ex-colegas de trabalho da rede e nas conversas há muito saudosismo. Para eles, o Mappin era “uma mãe”.

A marca Mappin chegou ao Brasil em 1913 como pioneira do comércio varejista inspirado nas lojas de departamentos do Reino Unido. Na época, oferecia artigos de luxo como pratarias e cristais. A loja mais emblemática ficava na Praça Ramos de Azevedo, no Centro de São Paulo, onde a elite paulistana se reunia para tomar chá no auge da atividade cafeeira no estado. Depois, com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, dando início a uma crise financeira mundial, o Mappin teve de se popularizar para sobreviver.

Na década de 1990, a rede teve prejuízos e se endividou. Em 1996, a empresária Cosette Alves vendeu a rede ao empresário Ricardo Mansur. Ele também assumiu a Mesbla, mas as duas faliram. O Mappin foi adquirido em leilão judicial pela Marabraz, rede especializada em móveis, em 2009 por R$ 5 milhões.

Economia

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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