Infoglobo

O que a Microsoft viu na Activision Blizzard?

Ao comprar a dona de Call of Duty e Candy Crush, gigante quer fincar o pé no metaverso. Outros atrativos são as franquias e o fato de as ações estarem em nível pré-pandemia devido a um escândalo de assédio

RENNAN SETTI rennan.setti@oglobo.com.br Este texto foi originalmente publicado na coluna de negócios Capital, no site do GLOBO: blogs.oglobo.globo.com/capital

Acompra da Activision Blizzard pela Microsoft ilustra como o setor de games vem se impondo como uma espécie de “entretenimento total”: inteligência artificial azeitada, algumas das maiores franquias da indústria e um pé à frente na corrida pelo metaverso.

Em termos de propriedade intelectual, a Activision Blizzard só perde, provavelmente, para a japonesa Nintendo (Super Mario e Pokémon) no mercado de games. No cardápio da firma de Santa Monica, Califórnia, estão máquinas de fazer dinheiro como o blockbuster Call of Duty, além de World of Warcraft, StarCraft, Tony Hawk’s, Guitar Hero e Candy Crush.

Só Call of Duty tem 100 milhões de usuários ativos mensais (quase metade do registrado pela Netflix) e gerou US$ 27 bilhões em receitas para a companhia desde 2003, cifra que faz dele uma das maiores franquias da indústria do entretenimento.

Espécie de Marvel dos games, a Activision Blizzard explora todos os nichos da indústria, dos jogos de tiro em primeira pessoa (FPS, na sigla em inglês) aos complexos MMORPG, como são conhecidos os RPGs jogados em modos on-line multiplayer e cenários quase infinitos.

Esses títulos se somarão àqueles que a Microsoft já absorveu em outras aquisições, como Minecraft, Halo e Doom. Com as linhas cada vez mais tênues entre games, séries e filmes, a empresa fundada por Bill Gates e Paul Allen tem em mãos um repertório invejável para quem deseja extrair valor no longuíssimo prazo.

No entanto, mais do que ganhar dinheiro com games e franquias, a Microsoft considera a Activision Blizzard crucial na disputa pela hegemonia do metaverso. Desde que Mark Zuckerberg externou sua obsessão com o conceito, esse universo paralelo que mescla realidade concreta e virtual transformou-se em arena de batalha entre as big techs.

Para existir, além de internet ultrarrápida, o metaverso precisa de computação na nuvem avançada, hardware (equipamentos para o consumidor “acessar” o novo mundo) e o universo virtual propriamente dito. Com a Azure, a Microsoft só está atrás da Amazon no mercado de computação na nuvem. A plataforma Xbox também lhe garante lugar privilegiado na competição pelo hardware. Agora, com a Activision Blizzard, ganha proeza técnica.

Aliás, em artigo publicado em dezembro no site The Drum, o vice-presidente global de marketing da Activision Blizzard, Jonathan Stringfield, afirmou que “executivos de marketing e tecnólogos que não deram muita atenção aos jogos ficaram surpresos ao descobrir que muitos dos conceitos e ideias sobre o metaverso —incluindo sua aparência —fazem parte do ecossistema de jogos há algum tempo.”

Para completar, a Microsoft ainda aproveitou uma janela de mercado. As ações da Activision Blizzard estavam sendo negociadas a preços similares àqueles do início da pandemia, antes que a demanda por papéis de tecnologia disparassem com a demanda pelo home office.

A razão é uma série de assédios e agressões sexuais dentro da empresa, revelada em meados do ano passado. Isso permitiu que a Microsoft pagasse US$ 95 por ação —menos do que o papel valia há apenas sete meses —e soasse como um grande prêmio aos acionistas: ágio de 45% frente ao valor de sexta-feira.

Economia

pt-br

2022-01-19T08:00:00.0000000Z

2022-01-19T08:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281792812398539

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.