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Ex-ministros de Bolsonaro atacam aliança com o Centrão

Weintraub diz que conservadores foram substituídos ‘por essa turma’, e irrita presidente por se lançar em São Paulo

DANIEL GULLINO daniel.gullino@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA

No momento em que cresce a influência do Centrão na gestão e na pré-campanha à reeleição de Jair Bolsonaro, os ex-ministros Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores), que integravam a ala ideológica do governo, criticaram a aliança do presidente com esse grupo político. Weintraub disse que os conservadores foram “substituídos por essa turma”, enquanto Araújo afirmou que o grupo “começou a dominar e pautar” o governo, prejudicando a política externa.

Bolsonaro tem demonstrado irritação com Weintraub, que articula uma candidatura ao governo de São Paulo, mesmo com o presidente defendendo publicamente o nome do ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) para o posto. O temor é que a candidatura de Weintraub possa tirar votos de Tarcísio no eleitorado de direita.

Em conversas com aliados, Bolsonaro tem comparado Weintraub a outros antigos colegas da Esplanada que se transformaram em inimigos políticos do presidente depois de deixar o governo, como Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), já falecido, e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo).

As declarações dos ex-ministros ocorreram segundafeira durante o “ConservaTalk”, programa no Youtube do qual os dois fazem parte, ao lado do também ex-ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) e de outras personalidades de direita. O convidado do programa foi o pastor Silas Malafaia, que criticou a postura de ministros palacianos durante o processo de indicação de André Mendonça ao Supremo Tribunal Federal (STF).

As críticas ao Centrão começaram justamente quando Malafaia disse que os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria (Comunicações) não se empenharam na aprovação do nome de Mendonça, que demorou quatro meses e meio para ter sua indicação analisada pelo Senado.

Weintraub, então, afirmou que os partidos do Centrão são um “grande obstáculo” aos conservadores:

— Uma das frentes que a gente está sofrendo grandes ataques, os conservadores, é justamente uma turma do Centrão —disse o ex-ministro. — Um grande obstáculo que nós conservadores estamos passando, estamos sendo atacados continuamente, e fomos substituídos por essa turma do Centrão que você citou.

SALLES CONTEMPORIZA

Nesse momento, Salles, Malafaia e o deputado federal Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), que também participou da transmissão, ponderaram que a aliança com o Centrão é necessária.

— Essa história do Centrão também não pode virar um cavalo de batalha. Por que? Porque apolítica éfe ita de alianças. Apolíticaé feita de união —disse Salles.

Entretanto, Ernesto Araújo — que foi demitido em março do ano passado por pressão do Congresso —reforçou as críticas ao bloco, dizendo que esses partidos o impediram de fazer uma “política externa transformadora”:

—E oque aconteceu quando o Centrãocomeçou a dominar o governo e pautar o governo? Fui cada vez mais isolado e tirado da capacidade de levar adiante essa política externa transformadora. Porque esse Centrão que veio aí é um Centrão que acha que política externa é fazer tudo que a China quer. Não sei qual o grau de interesse econômico que essas figuras têm com a China.

O ex-chanceler reforçou as críticas a Nogueira, Flávia e principalmente a Fábio Faria, dizendo que ele “entregou o 5G para a China” e que é preciso saber se os eleitores de Bolsonaro “topam isso”.

—O senhor citou três pessoas que são chave nisso. Ciro Nogueira, Fábio Faria, que entregou o 5G para a China, e Flávia Arruda. Isso aí é o seguinte. As pessoas têm que saber isso. Se os eleitores do presidente Bolsonaro, os conservadores, topam isso…

Política

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2022-01-19T08:00:00.0000000Z

2022-01-19T08:00:00.0000000Z

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