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Podemos e União Brasil negociam filiação de Moro

Negociação entre Podemos e União Brasil pode levar Moro a mudar de partido

JULIA LINDNER E RAYANDERSON GUERRA politica@oglobo.com.br BRASÍLIA E RIO

Integrantes da sigla que uniu DEM e PSL admitem abertamente querer o ex-juiz como candidato.

Dois meses emeio depois de filiar o ex-ministro Sergio Mor opara disputara Presidência da República, o Podemos abriu conversas que poderão resultar na migração do seu pré-candidato para o União Brasil, partido formado pela fusão entre DEM e PSL. A mudança está sendo negocia dacoma presidente da sigla do ex-juiz da Lava-Jato, a deputada Renata Abreu (SP), que tem visto lideranças estaduais do Podemos pularem para os palanques dos dois principais adversários de Moro: o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Integrantes do União Brasil admitem abertamente que sonham com o ingresso de Moro para encabeçara chapa presidencial pela legenda recém criada, que aguarda apenas o a valdo Tribunal Superior Eleitoral( TSE) para ser formalizada, oque deve ocorrerem fevereiro. Renata Abreu também não descarta o movimento, embora ressalte que as conversas estão em estágio inicial.

— Parlamentares do União Brasil pediram para avaliarmos esta possibilidade de o Moro migrar para o partido, mas não temos nada concreto —afirmou Renata ao GLOBO.

Nos atuais termos do debate entre os partidos, a própria Renata seria beneficiada. Para compensara eventual per dado presidenciável, a costura garantiria ao Podemos a vaga de vice na chapa, que poderia fi carcoma deputada. As negociações foram reveladas pelo colunista do GLOBO Lauro Jardim.

De acordo com pessoas próximas a Moro, ele tem uma relação de confiança com Renata Abreu e não deve concretizara mudança sema concordância da aliada. Procura dopara comentar o flerte como parti doem formação, o ex-ministro não quis se pronunciar.

Um dos nomes do União Brasil que torcem pela filiação de Moro, o deputado Junior Bozella (PSL-SP) acredita que, se o ex-ministro mudar de partido, sua campanha terá mais musculatura, já que a futura legenda deverá contar coma maior bancada de deputados federais e om ais robusto fundo eleitor aldo país.

—Se todo mundo chegar à conclusão de queéo melhor caminho Moro ir para o União Brasil, será bom para todos os lados. É algo para somar, em comum acordo. É um projeto único —disse.

Ainda segundo aliados do pré-candidato, ele decidiu se filiar ao Podemos porque já conversava com membros da legenda desde o ano passado, no período em que viveu nos Estados Unidos — com o passar do tempo, houve também uma aproximação com o União Brasil. Sinal dessa proximidade, Moro esteve na semana passada no aniversário do deputado Julian Lemos( PS L PB ). Na ocasião, ele conversou com o presidente do PSL, Luciano Bivar, que também vai comandara sigla novata.

A possível migração, no entanto, não encontra unanimidade. Uma ala do PSL e outra do DEM, pilares do União Brasil, são contra achegada do ex-ministro. Do outro lado da mesa de negociação também há entraves. Membros da cúpula do Podemos apresentam resistência ao plano demudança. Reservadamente, lembram que Moro acabou dese filia reque, se ele aceitara troca, tende ase queimar com boa parte dos quadros da sigla, que atrelam seus projetos políticos eleitorais ao do ex-magistrado.

Ao menos por ora, o plano de Podemos é que seu précandidato atinja 15% nas pesquisas de intenção de voto até julho. De olho nesse patamar, ele tem dado uma série de entrevistas e seguirá na rotina de viagens pelo país, em uma nova rodada a partir de fevereiro, com passagens já confirmadas por São Paulo e Espírito Santo.

SEM PALANQUE NO RIO

No Podemos, Moro tem tido que conviver com dissidências a seu projeto por parte de lideranças regionais da sigla em estados importantes. Nos últimos meses, quadros do Podemos no Rio, na Bahia no Paraná, no Mato Grosso e no Espírito Santo —unidades da federação que concentram 24,3% do eleitorado —deram sinais de que apoiarão Lula e Bolsonaro.

Na Bahia, por exemplo, o deputado federal Bacelar (Podemos-BA) deve se reunir na próxima semana como governador Rui Costa( PT) para definir se continua naba sedo governo baiano, mesmo sem o aval do diretório nacional. O apoio da legenda à candidatura do senador Jaques Wagner (PT) ao governo é rechaçada por aliados de Moro. Com uma costura cada vez mais complicada, o ex-juiz deve ficar sem candidato no estado.

— Com uma eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro, nosso objetivo deve ser lançar candidatos fortes para o Legislativo —defende Bacelar.

A pesquisa Ipec mais recente indica que Lula chega a 63% das intenções de voto no Nordeste, um dos fatores para que integrantes do Podemos na região vejam com ressalva a presença no palanque de Moro.

Se, de um lado, membros do partido defendem o apoio a candidatos alinhados a Lula, há também aqueles que trabalham por nomes próximos a Bolsonaro, a exemplo do Rio. No estado governado por Cláudio Castro (PL), que deverá contar com o apoio do presidente à sua reeleição, o líder da legenda, Patrique Welber, atual secretário de Trabalho e Renda, éo respon sável por organizara legenda na eleição ejá articula adesão à campanha de Castro por um novo mandato.

“Ao aceitar amissão para ser Secretário de Trabalho e Renda, que me foi confiada pela líder do meu partido Podemos, Renata Abreu, e pelo meu amigo, o governador Claudio Castro, assumimos o compromisso de caminharmos lado alado em benefício do cidadão fluminense”, escreveu nas redes sociais.

De acordo coma colunista do Extra Berenice Seara, Welber pode deixar o Podemos rumo ao PSC — ainda assim, há dificuldade para a construção de um palanque para Mo rono Rio. Para contornara questão, Renata Abreu diz que o ex-juiz tem como alternativa fazer campanha no estado apenas ao lado de um candidato a senador —o objetivo é atrair o exministro Carlos Alberto dos Santos Cruz. No Paraná, em que pese a atuação pró-Moro do senador Alvaro Dias, a legenda é alinhada ao governador Ratinho Junior, próximo a Bolsonaro, enquanto no Mato Grosso o comando é do deputado bolsonarista José Medeiros, que avalia sair do partido. Outro impasse ocorre no Espírito Santo, onde a legenda integra o governo de Renato Casagrande (PSB), distante do projeto presidencial de Moro.

“Parlamentares do União Brasil pediram para avaliarmos esta possibilidade de o Moro migrar para o partido, mas não temos nada concreto”

Renata Abreu,

presidente do Podemos

“Com uma eleição polarizada, o objetivo deve ser lançar candidatos ao Legislativo”

Bacelar,

deputado do Podemos

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