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PLANOS PARA OS 60 ANOS DE NASCIMENTO DA CANTORA, EM 2022

CONTINUAÇÃO DA CAPA

VOZ DISSONANTE E TRANSGRESSORA, ARTISTA VOLTARÁ COM LANÇAMENTO DE UMA SÉRIE DE GRAVAÇÕES INÉDITAS E, POSSIVELMENTE, NOVOS DUETOS

Para Nando Reis, que produziu três discos de Cássia Eller (o “Acústico MTV”, “Com você... meu mundo ficaria completo”, de 1999; e o póstumo “Dez de dezembro”, de 2002), a palavra que melhor poderia definir o que os dois tiveram é “afinidade”.

— Nós encontramos um ambiente de conforto, de segurança e de admiração mútua, e nos reconhecíamos na forma com que vivíamos e como víamos nossa profissão. Havia a fascinante possibilidade de que aquela troca nos complementasse e nos enchesse de alegria. Era um terreno não só de conforto, mas de prazer — define. — Nunca tivemos qualquer tipo de desentendimento ou dificuldade. Ela se reconhecia na forma com a qual eu escrevia sobre amor, era muito fácil. Tenho um arsenal de memórias ao qual me apego.

Vinte anos depois, ele acredita que a obra de Cássia “permanece vivíssima”.

— Ela diz muito, especialmente neste momento tenebroso que vive o Brasil, dos ultraconservadores obscurantistas que tentam impor a sua agenda de uma maneira hipócrita e estúpida. A Cássia sempre foi uma voz dissonante e transgressora e uma afirmação da sua independência, sendo lésbica, cantora e mãe. Ela não era uma ativista e muito menos uma militante, mas conseguiu ser uma figura exemplar através da música, pela qualidade do seu trabalho e por sua individualidade.

Viúva de Cássia, Maria Eugenia Vieira Martins diz pensar muito no que a cantora estaria achando do Brasil de 2021 — e, principalmente, como estaria reagindo a ele.

— É o imponderável, mas eu acho que ela ia estar gritando muito. Apesar de não ter tido uma formação acadêmica, a Cássia era muito inteligente, muito além do próprio tempo. Ela tinha bagagem de leituras e me dava um banho de consciência política e engajamento — diz. — Cássia já gritava com sua música e com o jeito que vivia. Ela cantava aquilo em que acreditava e isso convencia as pessoas. Se a pessoa é autêntica, sempre dá certo, as pessoas sempre vão se identificar. E o Chico segue nessa mesma onda, só que, diferentemente da mãe, ele também é compositor.

— O Chico não tem essa atitude individualista, de dar carteirada [porque é filho de

artista] — defende Rodrigo Garcia, produtor a quem Eugenia confiou não só o início da carreira do filho (no selo independente Porangareté) como a organização do material de arquivo de Cássia que é periodicamente lançado.

— Poderia ter escolhido administrar o espólio e viver disso, mas preferi ter a ajuda de pessoas como o Rodrigo — diz Eugenia. — E agora que o Chicão está se afirmando mais como artista, ele começa a decidir mais sobre as coisas da mãe junto com o Rodrigão. Aos pouquinhos, isso está saindo das minhas mãos.

Ao longo dos anos, Rodrigo Garcia cuidou da edição de álbuns como “O espírito do som, vol. 1” (de 2015, com gravações recuperadas de uma fita cassete que Cássia Eller gravou em 1983) e “Todo veneno vivo” (de 2019, ampliação de um álbum ao vivo de 1998). Em 2017, ele lançou também “Chocante”, canção que a cantora gravou em 1986, em Brasília, para o musical “Gigolôs”.

— A gente tenta ser artístico e criterioso, para não sair lançando tudo o que tem. A gente meio tenta que adivinhar o que a Cássia gostaria que fosse lançado — explica ele, para quem a grande festa de lançamentos vai ser em 2022, quando a artista completaria 60 anos.

FOCO NA COMPOSITORA

Entre planos para reedições de álbuns em vinil, com livretos, há ainda o projeto, por exemplo, de fazer um disco da Cássia compositora, área em que ela pouco atuou, conta Rodrigo.

— Juntando umas cinco músicas já lançadas, umas vinhetas e ideias, mais uma canção que ela começou afazer coma Marisa Monte, dá para chegara dez faixas. Também queremos lançar o segundo volume do “Espírito do som”, com gravações ao vivo. E, quem sabe, fazer duetos dela com cantores co mosquais ela nunca gravou, a partir de uma pré-produção de voz e violão para o disco“Com você ... meu mundo ficaria completo”.

Segundo Caderno

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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