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‘TEMOS ESPERANÇA DE QUE O COQUETEL SEJA EFICAZ CONTRA A CEPA ÔMICRON’

Um coquetel de anticorpos monoclonais de longa duração para prevenir a Covid-19 e tratar a doença em casos leves e moderados, mas sem substituir a vacina. É o que busca a AstraZeneca com o novo produto, batizado de Evusheld (AZD7442) e desenvolvido pelo laboratório a partir de anticorpos humanos.

O combo antiviral — que está sob o escrutínio da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana, para profilaxia e ainda precisa ser submetido à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — pode vir a ser o primeiro tratamento precoce eficaz contra o novo coronavírus.

Segundo a AstraZeneca, testes de fase 3, realizados em voluntários a partir de 18 anos, mostraram que os pacientes que receberam o coquetel para prevenção tiveram 83% menor risco de desenvolver a doença sintomática, sem casos de formas graves ou mortes. Quando administrado até o terceiro dia de sintomas, houve queda de 88% no risco de casos graves e de óbito.

Agora, a farmacêutica acompanha a Ômicron para entendê-la e mensurar o impacto no imunizante, isto é, se há escape ou não. Para isso, já começou a estudar como a cepa se comporta na vida real em Botsuana e em Eswatini, na África, e a testar se o coquetel de anticorpos será efetivo contra a variante.

Em entrevista ao GLOBO, a gerente médica e líder de vacinas da AstraZeneca Brasil, Bárbara Furtado, comenta as possibilidades de tratamento oferecidas pelo coquetel antiviral contra a Covid-19 e a dose de reforço para a vacina.

Quais as perspectivas da vacina e do coquetel de anticorpos da AstraZeneca diante da variante Ômicron?

Diante da detecção da Ômicron ao redor do globo, buscamos entender mais sobre a nova variante e o impacto na vacina. É importante enfatizar a eficácia demonstrada pela vacina da AstraZeneca contra todas as variantes de preocupação do vírus em ensaios clínicos e evidências no mundo real. Além disso, temos esperança de que o coquetel de anticorpos AZD7442 mantenha eficácia contra essa nova variante e, assim, seja mais uma arma para o enfrentamento da pandemia.

O que se espera desse tratamento?

O AZD 7442 é um coquetel de anticorpos que tem a função de se ligar ao SarsCoV-2. Ele está sendo estudado, e temos resultados já na profilaxia, ou seja, pessoas que não foram infectadas e que não têm a doença, e temos dados bastante positivos no tratamento de pessoas com Covid-19. É o que a gente chamaria — a gente não gosta muito desse termo — de um tratamento mais precoce. A gente tem dados com 3, 5 e 7 dias de sintomas de doença em pacientes não internados.

Esperamos que essa seja uma arma importante, tanto na prevenção da Covid em pacientes que tenham alterações no sistema imunológico e que, por isso, tenham alguma dificuldade ou uma diminuição de resposta às vacinas quanto no tratamento precoce de pessoas de alto risco que já tenham adquirido a doença e que esses anticorpos possam ajudar a prevenir o desenvolvimento de uma doença grave.

Neste momento, no Brasil, nosso panorama é positivo: temos poucas pessoas internadas com Covid, e isso está relacionado à alta cobertura vacinal que a gente tem tido no país. Mas a gente entende que essa luta ainda não está ganha. Essas armas vão ser bastante importantes para a gente continuar lutando contra a pandemia.

Há previsão de quando esses resultados devem sair?

A gente tem os resultados iniciais: na profilaxia, houve uma redução de 83% de chance de desenvolver Covid. Isso foi feito numa população de altíssimo risco: 70% das pessoas que participaram desse estudo de profilaxia, que é o Provent, tinham alto risco para desenvolver a Covid grave, incluindo pacientes com câncer, com tratamento imunossupressor, com doença renal grave e de fígado também. A gente também teve redução da chance de desenvolver Covid, com seis meses depois da aplicação, de 88%, num cenário em que não existia vacina ainda. Então, obviamente, agora com a população vacinada, a gente espera um impacto até maior.

No estudo Tackle, que também aconteceu aqui no Brasil, que é para o tratamento da doença leve a moderada em pessoas não hospitalizadas, a gente teve redução de 88% para desenvolver a Covid grave em pacientes que foram tratados até o terceiro dia de sintomas. A gente espera que, agora em dezembro ou no início de janeiro, já tenhamos a publicação, ou seja, o artigo completo dos resultados desses estudos.

Esse coquetel antiviral não substitui a vacina, não é?

Não. A gente continua afirmando que a vacina é a principal forma de prevenção para a Covid-19. Esse coquetel não vai substituir a vacina, mas algumas populações específicas têm a resposta à vacinação em geral diminuída, não só em relação à Covid-19. Para esse grupo, que é mais velho, com sistema imunológico debilitado, esse coquetel de anticorpos se soma à prevenção à Covid.

Há previsão para a aprovação do coquetel aqui ou em outros países?

Enquanto a gente fala da prevenção, esses dados já foram submetidos para aFDA em outubro. Estamos coletando os dados para que a gente possa fazer, em breve, uma submissão para indicação de prevenção do produto aqui no Brasil também. Provavelmente, na sequência, vamos fazer a submissão para o tratamento da doença leve a moderada. A gente não consegue dar datas ainda, mas estamos fazendo todo o esforço para incluir logo o Brasil nessa aprovação.

Existe uma reserva desse coquetel para o Brasil?

Não. Neste momento, o que a gente tem é uma discussão científica com o ministério (da Saúde). Mas nós temos priorizado o Brasil em termos de submissão, de agilidade para acelerar as negociações.

A AstraZeneca entrou com pedido de inclusão da dose de reforço na bula da vacina na Anvisa. Qual é a tendência e como o laboratório avalia essa questão?

Essa é uma discussão que a gente tem desde o começo da pandemia: quando e se seriam necessárias doses adicionais para a população. O que tem se visto cientificamente é que a população mais vulnerável, principalmente aqueles pacientes mais velhos e com sistema de defesa diminuído, pode estar desprotegida de uma forma mais ampla, apesar da vacinação completa. Nós entendemos que uma dose de reforço pode ser utilizada nessa população. Isso vai depender, obviamente, da situação de cada país.

“A gente entende que essa luta ainda não está ganha. Essas armas vão ser bastante importantes para a gente continuar lutando contra a pandemia”

Saúde

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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