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Novo antiviral para HIV tem êxito em estudo com macacos

Droga pode virar uma alternativa eficiente para a PREP em humanos

RAFAEL GARCIA rafael.garcia@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

Um novo antiviral com ação de longo prazo contra o HIV obteve sucesso em um teste com macacos, relatam ontem cientistas que conduziram o experimento. Uma única aplicação do medicamento lenacapavir conseguiu proteger os animais por pelo menos 17 semanas, e estudos em humanos já estão em andamento.

O resultado do teste em símios, conduzido por pesquisadores da Universidade Harvard e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi anunciado ontem em um estudo publicado na revista científica Nature.

A droga, afirmam os cientistas, pode vir a ser uma alternativa para uso em terapias de profilaxia-pré exposição (PREP), hoje adotada em grupos sob alto risco de contaminação, mas que requer administração diária de drogas. A droga usada pelos pesquisadores, desenvolvida pela própria universidade, é um tipo novo de “inibidor de capsídeo”, que ataca a cápsula em que o vírus guarda seu material genético e o entrega à célula.

No estudo, os pesquisadores relatam que dividiram um grupo de 24 macacos em subgrupos que recebiam a droga em diferentes dosagens ou que recebiam placebo. Todos os animais foram inoculados com amostras do HIV semanalmente. Cinco de oito macacos conseguiram resistir à infecção por 24 semanas, enquanto no restante a droga durou ao menos 17 semanas. Entre os animais sob placebo, todos se infectaram com o vírus.

Os números indicam que para o período total do estudo (168 dias), a eficácia da droga foi de 97%.

“Esses dados de prova de conceito justificam o desenvolvimento de inibidores de capsídeos para uma nova estratégia de profilaxia pré-exposição de longo prazo em humanos”, escreveu o grupo liderado por Samuel Vidal.

Apesar do sucesso, os cientistas afirmam que a etapa humana é essencial para saber se ela teria sucesso, já que as pesquisas de HIV tradicionalmente têm dificuldade em replicar em pessoas aquilo que é feito com cobaias.

Uma das limitações do estudo é que ele não foi feito com uma cepa tradicional do HIV, mas sim o SHIV, a versão do vírus que infecta símios. Na etapa de camundongos é necessária uma manobra experimental ainda maior, porque é preciso usar roedores geneticamente modificados que se infectam com HIV, um vírus adaptado apenas a primatas. Por causa disso, os pesquisadores não puderam também usar o mesmo lenacapavir aplicado a humanos, mas uma versão.

O sucesso do medicamento em macacos já havia sido antecipado em março pela Gilead, mas só agora foi validado por cientistas que fizeram um estudo com revisão independente, o que eleva a expectativa sobre a droga. O lenacapavir vem sendo usado em humanos para terapia antirretroviral em pacientes com diagnóstico positivo.

Saúde

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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