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Doses paradas de CoronaVac serão doadas a outros países

Sem ter seu imunizante incluído no PNI de 2022, Butantan negocia distribuir excedente a nações com déficit vacinal

MARIANA ROSÁRIO mariana.rosario@sp.oglobo.com.br SÃO PAULO

As 15 milhões de doses de vacina CoronaVac paradas no Instituto Butantan podem ter destino internacional. É o que explicou o diretor da instituição, Dimas Covas. De acordo com ele, há negociações de distribuição para países das Américas e da África.

— Estamos em negociação com outros países, inclusive em uma conversa para o fornecimento à Organização Panamericana de Saúde, por meio do mecanismo Covax (ligado à OMS), e, com esse problema todo na África, estamos vendo a possibilidade de usar essas vacinas lá —disse.

O diretor explicou que aguardava a resposta do Ministério da Saúde para saber do interesse em receber esse pacote adicional de imunizantes —o Butantan já forneceu 100 milhões de doses desta vacina ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) desde janeiro —mas a resposta do governo foi negativa.

Dimas Covas afirmou, porém, que atualmente há dificuldade de comercialização da vacina para países vizinhos. Segundo ele, as nações têm dificuldade em arcar com os custos da vacina. Daí a necessidade de incluir a CoronaVac no mecanismo Covax Facility, uma aliança de distribuição de imunizantes ligada à Organização Mundial da Saúde.

— Acho um erro, oficiamos (a disponibilidade em oferecer as doses) e recebemos a resposta ontem que não havia interesse. É a vacina mais usada no mundo, hoje o presidente da Sinovac adiantou que cerca de 2 bilhões de unidades dessa vacina já estão em uso — afirmou Covas.

Em nota enviada à reportagem, o Ministério da Saúde informou que contará, no ano que vem, “com um saldo remanescente de 134 milhões de imunizantes de 2021, somada à aquisição de 100 milhões de doses da Pfizer e 120 milhões de AstraZeneca. Essas duas vacinas foram escolhidas por terem o registro definitivo na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a aprovação por parte da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec)”.

A pasta ainda informou que eventuais doações envolvendo esse quantitativo de aplicações é de responsabilidade do instituto. O governo federal apenas responde pelos 100 milhões já contratados e pagos.

PEDIDO DE REGISTRO

Sobre o registro — que é a aprovação definitiva da Anvisa aos fármacos em geral — Covas diz que o interesse do instituto é entrar com o pedido junto à agência ainda este ano. Porém, ele defende que a vacina deveria ser considerada mesmo com liberação de uso emergencial, que é temporária.

— É uma desculpa para não incorporar (a vacina ao PNI). Como quem não incorporou em agosto, em setembro do ano passado. Agora eles tem uma nova justificativa. A vacina está autorizada para uso emergencial enquanto durar a pandemia. A pandemia não acabou e não vai acabar ano que vem, é apenas retórica do Ministério da Saúde para justificar a sua escolha — aponta o diretor.

Por conta dessa falta de demanda nacional, o Butantan está desde o final de outubro sem produzir novas doses. As 15 milhões de doses ociosas foram envasadas em agosto e, portanto, têm validade prevista para até 12 meses após essa data.

Carla Domingues, doutora em medicina tropical e coordenadora do Programa Nacional de Imunizações PNI por oito anos (20112019), diz que a decisão do ministério está correta.

—Não podemos perder de vista o objetivo da campanha de vacinação que estamos fazendo. Chegamos ao final da 2021 com quase 70% da população brasileira com a segunda dose. Nesse processo, a CoronaVac foi fundamental. Agora temos uma nova etapa. Em 2022, temos que garantir e evitar que as pessoas tenham reinfecção. Para esse novo capítulo, a vacina não tem caráter adequado —afirma.

De acordo com ela, o foco neste momento deve ser não perder as doses que estão paradas na instituição.

Saúde

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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