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Reunião virtual, tensão real

Biden ameaça Putin com ‘fortes sanções’ se Rússia invadir Ucrânia

MOSCOU E WASHINGTON

Em cúpula presidencial, Biden ameaçou Putin com pesadas sanções e ajuda militar ao Leste Europeu caso a Rússia invada a Ucrânia.

Opresidente dos EUA, Joe Biden, advertiu ontem o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de que o governo americano vai impor sanções severas contra Moscou e aumentar o apoio militar à Europa Oriental se a Rússia invadir a Ucrânia. A advertência foi feita durante uma videoconferênciadeduashoras,organizada num esforço para diminuir a tensão na Ucrânia, em um momento em que estimados mais de 100 mil soldados da Rússia se aglomeram ao longo da fronteira entre os dois países. A Rússia nega planejar invadir o país vizinho.

Segundo um comunicado da Casa Branca, Biden “expressou as profundas preocupações com o reforço militar russo em torno da Ucrânia e deixou claro que os EUA e nossos aliados responderão com fortes medidas econômicas e de outros tipos no caso de uma escalada militar. O presidente Biden reiterou seu apoio à soberania e à integridade territorial da Ucrânia e pediu uma diminuição das tensões e um retorno à diplomacia”.

Numa expressão da gravidade do momento, Biden fez a reunião atrás de portas fechadas na Sala de Situações de Alta Segurança da Casa Branca. Em contraste, em uma reunião com o líder chinês, Xi Jinping, há três semanas, Biden sentou-se nasala Roosevelt, de decoração mais leve, com jornalistas convidados a testemunhar as atas de abertura.

Segundo o conselheiro de Segurança Nacional americano, Jake Sullivan, Biden disse a Putin que, se a Rússia atacara Ucrânia, haverá também fornecimento de ajuda militar adicional à Ucrânia e os EUA responderão “positivamente” aos pedidos do Báltico, da Polônia e de outros por mais recursos. As sanções poderiam ter como alvo os maiores bancosda Rússia e a capacidade de Moscou de converter rublos em dólares e outras moedas.

—Estamos preparados para fazer o que não fizemos em 2014 —afirmou Sullivan, em referência à anexação pela Rússia da Península da Crimeia e ao apoio russo a uma rebelião separatista em áreas do Leste da Ucrânia.

A reunião ocorreu por meio de uma conexão criptografada estabelecida em governos anteriores, mas nunca antes usada, disse a agência de notícias russa Tass. Segundo a agência, Putin participou do encontro de sua residência no resort de Sochi, ao Sul. Abertura da conversa foi amigável:

— Saudações, senhor presidente —disse Putin em um vídeo divulgado pelo Kremlin.

—Olá.Bomvê-lodenovo— respondeu Biden. — Infelizmente, da última vez não nos encontramos no G20. Espero que da próxima vez o façamos pessoalmente.

Em um comunicado, o Gabinete do presidente da Ucrânia agradeceu a Biden por seu “apoio incansável” e disse respaldar esforços diplomáticos para reduzir as tensões.

SOMBRA DA OTAN

Do lado russo, Putin denunciou uma crescente sombra da Otan em suas fronteiras e pediu “garantias confiáveis e legalmentefixas”dequeaaliança ocidental não se expandirá para o Leste, assim como não desenvolverá “sistemas de armas de ataque ofensivo em estados adjacentes à Rússia” .

“A Otan faz tentativas perigosas de usar o território ucraniano e desenvolver seu potencial militar em nossas fronteiras, e é por isso que a Rússia tem um sério interesse em [obter] garantias legais que excluam a expansão da Otan no Leste”, disse o Kremlin em um comunicado após a reunião.

Putin também afirmou que a “Rússia não deveria ser responsabilizada” pelo comportamento da Otan e denunciou “a linha destrutiva de Kiev” que, afirmou, visa “desmantelar” os acordos de Minsk de 2015, um processo de paz que, emprincípio,deveriaencerrar o conflito entre as forças ucranianas e separatistas pró-russos, mas está parado há anos.

‘HISTERIA’

Antes da reunião, Moscou disse que não esperava nenhuma mudança significativa na situação, classificando o discurso de invasão de “histeria”. Informações de inteligência de agências americanas indicam que os militares russos desenvolveram um plano de guerra que prevê até 175 mil soldados cruzando a fronteira com a Ucrânia, uma força de invasão que os militares ucranianos, apesar do equipamento e treinamento fornecidos pelos EUA, teriam pouca capacidade de repelir.

Putin várias vezes afirmou que vê a crescente aliança da Ucrânia com os países ocidentais como uma ameaça à segurança russa, e que qualquer movimento da Ucrânia para se juntar à Otan ou hospedar mísseis da aliança ocidental seria inaceitável.

Os EUA e a Otan dizem que a Rússia não pode ter direito de veto sobre as ambições da Ucrânia.As potências ocidentais têm trabalhado para apoiar as Forças Armadas da Ucrânia desde 2014, mas não há interesse dos EUA nem das outras potências ocidentais para um conflito militar direto com a Rússia, o que limita as opções desses países.

Ambos os lados dizem esperar que os dois líderes possam realizar uma cúpula presencial para discutir os laços entre as duas nações, que têm diferenças de longa data em relação a Síria, sanções econômicas e supostos ciberataques russos contra alvos dos EUA.

Analistas dizem que uma invasão da Ucrânia pode desencadear um movimento para isolar a Rússia do sistema financeiro internacional, medida drástica reservada para casos extremos. Ontem a Bloomberg informou que os EUA buscam interromper a construção do oleoduto Nord Stream 2 da Rússia para a Alemanha, uma meta antiga, que a Alemanha já rechaçou.

Não está claro se alguma ameaça americana vai deter Putin, que resistiu a anos de sanções ocidentais por atos ofensivos anteriores, incluindo a anexação da Crimeia e seu apoio de longa data à insurgência separatista próRússia no Leste do país.

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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