Infoglobo

Icônico em SP, Maksoud Plaza fecha as portas de surpresa

Hotel cinco estrelas que já recebeu de Margaret Thatcher a Rolling Stones estava em crise, acelerada pela pandemia

IVAN MARTÍNEZ-VARGAS ivan.martinezvargas@edglobo.com.br SÃO PAULO

OHotel Maksoud Plaza, um dos ícones de São Paulo, fechou as portas oficialmente ontem após uma crise que se arrasta há mais de uma década e envolve litígios societários, passivos trabalhistas e dívidas com fornecedores. O empreendimento está em recuperação judicial desde o ano passado. Os funcionários do cinco estrelas já haviam recebido há dias a orientação de que não deveriam aceitar reservas para depois do dia 7, mas tiveram a confirmação oficial do encerramento das atividades primeiramente pela imprensa.

Henry Maksoud Neto, o atual administrador do hotel, concedeu entrevista ao Valor sobre o fim do empreendimento, publicada antes de uma reunião que teve com os colaboradores na manhã ontem, quando o prédio icônico da Bela Vista, a poucos metros da Avenida Paulista, já estava rodeado por grades e a entrada bloqueada. Já no estacionamento, em frente à fachada, seguranças impediam o ingresso de não funcionários ao local.

A Laspro Consultores, administradora judicial do caso de recuperação, uma espécie de síndica do processo nomeada pelo juiz, afirma nos autos que também foi informada do fechamento pela mídia. Já os locatários de estabelecimentos comerciais localizados no hotel foram avisados horas antes dos funcionários.

O Maksoud Plaza é considerado um dos símbolos arquitetônicos de São Paulo e está localizado na esquina da Rua São Carlos do Pinhal com a Alameda Campinas, a duas quadras da Avenida Paulista. Inaugurado em 1979, chegou a hospedar grandes artistas, políticos e empresários.

POLÍTICOS E ARTISTAS

Na lista de ex-hóspedes ilustres, estão a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, o então secretáriogeral da ONU Kofi Annan, o cantor João Gilberto, e as bandas de rock Rolling Stones e Guns N’Roses. O hotel também já recebeu shows de Frank Sinatra e Julio Iglesias. A estimativa da companhia é que mais de 3 milhões de pessoas tenham se hospedado ali em 42 anos de operação.

A empresa está em recuperação judicial desde setembro do ano passado, quando listou dívidas de R$ 82 milhões. Nos autos, o hotel atribuía à pandemia o fracasso do empreendimento, embora a crise da marca precedesse em ao menos uma década o surgimento do coronavírus.

O hotel foi administrado em seus anos finais por Henry Maksoud Neto, neto do fundador da marca, morto em 2014. Henry trava uma briga com o pai, Cláudio Maksoud, e o tio, Roberto Maksoud, pela herança. Ao todo, o passivo das controladoras do hotel, Hidroservice e HM Hotéis, ultrapassa os R$ 300 milhões arrolados nos autos da recuperação judicial. Não entram nessa conta as dívidas com o Fisco, por exemplo.

O fim definitivo das operações do hotel ocorre após um acordo entre Henry Neto e os irmãos Jussara e Fernando Simões, controladores do grupo JSL, de logística e transportes. Os Simões arremataram o prédio do hotel em 2011 por cerca de R$ 70 milhões em um leilão judicial que foi feito para quitar uma dívida trabalhista de R$ 13 milhões.

O hotel e Henry Neto iniciaram, então, uma briga para anular o certame, sob o argumento de que, na data em que aconteceu, o passivo trabalhista já havia sido quitado. A assessoria de Henry Neto afirmou ao GLOBO que o acordo foi proposto inicialmente pelo juiz à frente da recuperação judicial como forma de destravar a venda de outros imóveis da empresa insolvente em leilões.

Os Simões, ainda segundo representante de Henry Neto, aceitaram fazer a correção monetária do valor do lance que vencera o leilão de 2011. Ao todo, vão pagar pelo imóvel R$ 132 milhões. Não se sabe o destino que os novos donos darão ao local. Os demais leilões de ativos devem ser feitos no primeiro semestre de 2022 e incluem imóveis em Manaus e na região metropolitana de São Paulo.

O valor arrecadado nos certames será usado para pagar dívidas do Maksoud Plaza, que terminará o processo praticamente sem ativos, apenas com a marca. Apesar dessas afirmações, a Laspro, administradora judicial do processo de recuperação do Maksoud Plaza, afirmou no processo ontem que “foi até o hotel para constatação das informações recebidas através da mídia” sobre o encerramento das atividades do local.

O FIM DO FRANK BAR

O documento afirma que a consultoria, então, foi ao hotel, encontrou o local fechado com grades e seguranças na porta. Só aí, ao ligar para o telefone de Henry Neto e questionar sobre o fato, a administradora judicial foi informada que o hotel seria fechado e que os funcionários cumprirão aviso prévio até dia 27 de dezembro.

Na petição, a Laspro coloca em dúvida a viabilidade do plano de recuperação aprovado pelo hotel em junho deste ano e que não previa o acordo com os Simões. Em nota, a empresa gerida por Henry Neto diz que “prosseguirá no segmento de hospitalidade, utilizando a marca Maksoud Plaza” e que “em breve anunciará novidades”, sem precisar detalhes.

“Apesar do fechamento do Hotel, a HM Hotéis prosseguirá honrando seus compromissos firmados no processo de recuperação judicial, assim como arcará com a indenização integral de todos os colaboradores dispensados. Os clientes que tinham reservas futuras no Maksoud Plaza serão reembolsados”, diz o hotel em nota.

O Frank Bar, até então localizado no saguão do hotel e famoso por seus drinks e pelos seus shows de piano, também foi fechado. Os contratos com os demais restaurantes e cafés localizados no saguão do edifício serão rescindidos.

Economia

pt-br

2021-12-08T08:00:00.0000000Z

2021-12-08T08:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281788517353191

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.