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No Brasil, quem está no topo fica com 59% da renda nacional

Programa reduziu a desigualdade, mas o 1% não foi tocado, diz autor do estudo

Apesar de avanços nas últimas décadas, a desigualdade de renda no Brasil ainda se mostra persistente. No país, a renda média dos 10% mais ricos é 29,25 vezes a dos 50% mais pobres da população,de acordo como relatório “Desigualdade Mundial”, divulgado ontem. Os 10% mais ricos detêm 59% da renda nacional, e os 50% da base ficam com cerca de 10%.

A renda nacional média da população adulta brasileira é de € 14 mil, cerca de R$ 43.680 por ano. Os 50% da base ganham em média € 2.800, o equivalente a R$ 8.800 (menos de um salário mínimo por mês), e os 10% mais ricos recebem em média € 81.900, ou R$ 255.760, no período de 12 meses.

Para efeito de comparação, nos Estados Unidos, os 10% capturam 45%, na China, 42%. Se olharmos para os nossos vizinhos, esse percentual é de 43% na Argentina e 59% no Chile.

Para o principal autor do relatório e coeditor do laboratório, Lucas Chancel, o caso brasileiro é exemplar de como as medidas de combate à desigualdade devem ser pensadas de forma a cobrar de quem ganha mais:

— Tivemos um crescimento da renda dos mais pobres desde 2000, muito por causa dos programas sociais. Mas, ao mesmo tempo, o financiamento desses programas não foi feito de uma forma progressiva. O 1% mais rico não foi demandado para financiar esses programas na extensão de sua riqueza. Aclasse média contribuiu muito, e o 1% ficou intocável.

Chancel diz que a mensagem geral é que os programas sociais são essenciais, mas que taxas progressivas sobre os mais ricos para financiar esses programas são tão importantes quanto.

MARGARINA PARA BAIXO

Para o diretor da FGV Social, Marcelo Neri, a desigualdade chegou a cair nos últimos anos. O processo foi intensificado com o pagamento do Auxílio Emergencial durante a pandemia, mas esse efeito está acabando:

— Com a suspensão do Auxílio Emergencial ou a troca pelo Auxílio Brasil, a desigualdade aumenta muito —disse Neri.

Neri também ressalta que a inflação alta, principalmente entre os mais pobres, e o desemprego são fatores adicionais de pressão sobre a desigualdade. Além deles, os problemas enfrentados pela educação pública no país devido às medidas de restrição sanitária também devem ser levados em conta no debate.

—O Brasil foi mais generoso que o resto do mundo nos auxílios emergenciais. Mas se você comparar o Brasil com outros países, não só o Brasil piorou mais como os brasileiros mais pobres estão em pior situação. Estamos em um momento em que o pão dos pobres está caindo com a margarina voltada para baixo. A fase do auxílio (emergencial) foi atípica e já acabou —afimou Neri.

Economia

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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