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Inflação deve preocupar mais que crescimento

É preciso não criar ilusões sobre o PIB, mas tudo dependerá do sucesso no combate à pressão inflacionária

Há certo mau humor nas previsões para o crescimento da economia brasileira no ano que vem. A sucessão de dois trimestresde retração desperto unos analistas o fantasma da recessão e, embora haja motivos sensatos para preocupação, é preciso saber dirigi-la ao problema maior, sob pena de errar o diagnóstico e, portanto, o remédio. O problema maior da economia brasileira hoje não está nas perspectivas de crescimento. Está na inflação.

Obviamente é preciso não criar ilusões. O crescimento do PIB brasileiro está muito aquém do que deveria. Numa comparação da agência de classificação de risco Austin Rating, o número do terceiro trimestre divulgado pelo IBGE —leve queda de 0,1%, pelo segundo trimestre consecutivo, configurando o cenário classificado de “recessão técnica” — põe o Brasil na 26ª posição entre 33 países. Nada comparável à alta de 5,7% na Colômbia, 4,9% no Chile ou 3,6% no Peru. Nos rankings de crescimento, o Brasil sempre tem estado nas últimas posições.

Masiss onã oé exatamente novidade. O potencial decresci men toé sabidamente menor no Brasil que em economias de características semelhantes, em virtude das taxas baixas de poupança e investimento, drenadas por um Estado de tamanho incompatível com o que a sociedade produz. Levando isso em consideração, os números do IBGE não são desastrosos.

Acurva que compara as taxas acumuladas dos últimos quatro trimestres aos quatro anteriores continua em trajetória ascendente (subiu de 1,9% para 3,9%). A economia ainda tem capacidade ociosa e nível de emprego aquém do potencial. Houve recuperação nos gastos das família sedo governo e, finalmente,o setor de serviços, o mais afetado pela pandemia, esboça reação.

Os problemas enfrentados pela indústria estão, como em todo o mundo, ligados às turbulências nas cadeias globais de suprimento, em particular a dispara danos preços do frete e a falta de componentes, de plásticos a chips eletrônicos. Daí advém a dificuldade de manter a produção no mesmo ritmo, não da falta de demanda. No caso do agronegócio, setor que registrou maior queda no trimestre, a explicação está mais ligada a questões sazonais e metodológicas, já que a demanda externa continua alta.

Seria, por tudo isso, prematuro acreditar que a recessão se aprofundará. Em pleno ano eleitoral, a confirmar-se o arrefecimento da pandemia, a combinação de investimentos públicos na ascendente com retoma danas atividades e serviços tende a exercer uma força propulsora positiva. Mas é justamente aí que pairam os maiores riscos. A quedana massa salarial verificada pelo IBGE e os últimos indicadores do varejo sugerem que a demanda já sofre efeitos da inflação crescente. O consumidor tem adiado decisões de compra, a alta nos juros tem feito o crédito encolher —e esse quadro não deverá mudar tão cedo, já que aluta contra a inflação tem todas as características de uma ladeira íngreme ou mesmo de um paredão de escalada.

É difícil saber, a esta altura, qual das duas forçasse rá preponderante na trajetóriado PIB em 2022. Os otimistas se justificam apontando para o lado da oferta; os pessimistas, para os efeitos já evidentes na demanda. Quem quer que tenha razão precisa reconhecer o fato central: a perspectiva econômica brasileira será ditada pela capacidade das autoridades de enfrentara inflação.

Opinião Do Globo

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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