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38% da riqueza global vai para 1% mais rico

Hoje, 520 mil bilionários, que fazem parte do 0,01% mais rico do planeta, concentram 11% da renda. O grupo de 1% no topo detém 38% de toda a riqueza produzida no mundo nos últimos 26 anos

VITOR DA COSTA vitor.santos@oglobo.com.br

O relatório “Desigualdade mundial”, do Instituto Piketty, aponta que, desde 1995, o 1% mais rico ficou com 38% da riqueza global, e os 50% mais pobres, com 2%. A pandemia aprofundou a desigualdade: afortunados bilionários cresceu US $3,7 bilhões em 2020, equivalente ao gasto mundial em saúde.

Apandemia da Covid-19 intensificou a concentração da riqueza no mundo. Desde 1995, o 1% mais rico capturou 38% da riqueza global produzida no período, enquanto os 50% mais pobres ficaram com apenas 2% desse montante.

É o que mostra o último relatório “Desigualdade Mundial”, divulgado ontem e produzido pelo laboratório de mesmo nome que tem o francês Thomas Piketty (autor do best-seller “O capitalismo no século XXI”) como um dos seus coordenadores.

O principal autor do relatório e coeditor do laboratório, Lucas Chancel, diz que a riqueza dos bilionários globais cresceu US$ 3,7 trilhões em 2020, quantia próxima ao gasto público no mundo com saúde no mesmo período, que foi de US$ 4 trilhões:

—O que aconteceu durante a crise da Covid-19 é a exacerbação desse padrão que observamos desde o início dos anos 1990. Há variações entre as regiões do mundo. Mas a parte mais pobre sistematicamente tem menos de 5% da riqueza.

Os 10% mais ricos têm 76% da riqueza global, enquanto os 50% mais pobres, apenas 2%. No recorte do 1%, a fatia é de 38%.

Hoje, um seleto grupo de 520 mil bilionários, que fazem parte do 0,01% mais rico, detém 11% da riqueza global. Esse número correspondia a 7% em 1995.

Desde 1995, a parcela da riqueza global possuída por bilionários aumentou de 1% para quase 3,5%. Segundo o relatório, o ano de 2020 marcou o aumento mais acentuado na participação dos bilionários globais na riqueza.

Além de poder e influência, a atual realidade é um presságio de aumento na desigualdade futura se nada for feito, diz o relatório.

77% DA RIQUEZA COM 10%

E essa desigualdade está presente em todos os continentes, quando se divide a riqueza média dos 10% do topo pela riqueza média dos 50% da base. Na Europa, região menos desigual, os 10% mais ricos concentram cerca de 66 vezes a riqueza dos mais pobres, enquanto nas regiões mais desiguais esse número passa de 100. Na América Latina, a riqueza média dos 10% mais ricos é 630 vezes a dos 50% mais pobres.

Os autores projetam que, em caso de manutenção dessa situação, em 2070 o 0,1% mais rico vai concentrar mais de um quarto da riqueza global e, no fim do século, essa parcela vai superar os 40%.

Quando o critério de análise passa a ser a renda, o cenário é igual. Os 10% mais ricos têm cerca de 52% da renda global, enquanto os 50% da base respondem por 8% dela. Isso quer dizer que os mais pobres ganham apenas € 2.800, o equivalente a US$ 3.920 por ano. Já os 10% mais ricos têm em suas mãos € 87.200, correspondentes a US$ 122.100 por ano. Esse valor é quase cinco vezes maior que a média global.

Para Chancel, países que têm sistemas de proteção social bem estabelecidos conseguiram conter a pobreza durante a crise da Covid-19, como na Europa Ocidental:

— Políticas públicas importam. Políticas têm sido efetivas para atacar a pobreza e a desigualdade no passado, e nós observamos um impacto positivo durante a crise da Covid-19 em certos países. Desigualdade e pobreza são escolhas políticas, em vez de restrições econômicas. Intervenção governamental é chave para atacar desigualdade.

RIQUEZA PÚBLICA MENOR

Segundo o relatório, nos últimos 40 anos, os países tornaram-se mais ricos, mas a parcela da riqueza pública vem diminuindo enquanto a do setor privado cresce.

Essa tendência foi intensificada pela pandemia, quando muitos governos contrataram débitos para financiar programas de auxílio e aumentaram sua dívida. Chancel destaca que essa é uma questão que os governos terão de enfrentar num futuro próximo:

— O que os governos fizeram durante a crise da Covid-19 foi jogar para baixo do tapete quem vai pagar a conta, e agora essa questão está aberta para as sociedades. As gerações mais jovens vão pagar esse débito no futuro? A inflação vai contribuir para pagar esse débito?

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2021-12-08T08:00:00.0000000Z

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