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HOMENAGEM A UM HÚNGARO BRASILEIRO

cora@oglobo.com.br CORA RÓNAI

VOLTAMOS AO SÍTIO DE NOVA FRIBURGO APÓS MUITO TEMPO. TÍNHAMOS UM COMPROMISSO IMPORTANTE: FOI INAUGURADO O COMPLEXO EDUCACIONAL PAULO RÓNAI

Qu ando meus pais conheceram Nova Friburgo, a indanos anos 1950, acidade era pequena e muito europeia, com pensões e negócios tocados por imigrantes e refugiados, chalé salpinos aos montes, duas praças bonitas com árvores centenárias e um trem que atravessava o Centro, causando eterno alvoroço. Ambos se apaixonaram pela cidade. Quando a Laura e eu éramos crianças, costumávamos veranear lá, numa pensão onde as línguas mais faladas eram húngaro e alemão. Havia, na época, dois outros hotéis “húngaros”: oBucsky,fund ad opo ruma família de Budapeste, até hoje considerado um dos melhores da cidade, e o Park Hotel, projetado por Lúcio Costa e pertencente aos Guinle, mas arrendado por Irene Peterdi, a Babus, que pilotava a cozinha ela mesma, e que fazia a melhor comida húngara ao Sul do Equador.

Almoçar na Babus era aventura em família, uma felicidade de sopas, assados e strudels.

Mais tarde, meus pais compraram um terreno para lá de Conselheiro, praticamente no meio do mato, e construíram o Pois É. Durante anos, o sítio foi uma das poucas construções visíveis da montanha em frente, que ficava para além do Rio Bengalas. A linha do trem passava por ela, e era lindo ver a mariafumaça cortando caminho pela mata.

Havia uma casa solitária lá também, habitada por um casal de ingleses que vivera anteriormente num farol no meio do Atlântico. Os Mumford ficaram nossos amigos e, quando o terreno ao lado do nosso foi comprado, vieram hipotecar solidariedade.

Resta pouco dessa Nova Friburgo arcaica na cidade movimentada de hoje, cheia debar zinhos, restaurantes, fábricas, confecções. Amontanha dos Mumford está toda construída, assim como a nossa. O trem foi assassinado pela estupidez política que amaldiçoa o país desde sempre.

No fim de semana passado, voltamos ao sítio pela primeira vez em bastante tempo. Tínhamos um compromisso importante no Paissandu, onde, no número 70 da Rua José Tessarollo dos Santos, foi inaugurado o Complexo Educacional Paulo Rónai.

O Complexo fica num antigo casarão anexo a uma escola, e lá funcionam o Clube de Xadrez, a Biblioteca da Secretaria de Educação, o Centro de Atendimento Educacional

especializado e o Centro de Capacitação para profissionais da rede municipal. Há espaço para a prática de esportes e um auditório, onde as crianças da escola apresentaram uma encantadora encenação da trajetória de Papai entre as suas duas pátrias; por cenário, as bandeiras da Hungria e do Brasil, unidas por uma estante de livros onde se lia “Brilhoteca”, palavra que a Bia inventou, quando era pequenininha, para se referir à biblioteca do avô.

Durante a cerimônia de inauguração, o embaixador da Hungria Zoltán Szentgyörgyi, que fala português admiravelmente bem, contou que, quando era um jovem diplomata, foi encarregado de ciceronear o presidente Mário Soares, de Portugal, em visita oficial a Budapeste. Pois a primeira coisa que Mário Soares quis ver foi a Rua Paulo.

Szentgyörgyi ficou intrigado com a escolha: a Rua Paulo é uma rua pequena, sem maiores atrativos. Mas o presidente explicou que sonhava com ela desde que lera “Os meninos da Rua Paulo”, de Ferenc Molnár, traduzido para o português por um húngaro brasileiro chamado Paulo Rónai.

O húngaro brasileiro, que sorriria ao ouvir essa história, teria ficado muito emocionado com a homenagem que recebeu de Nova Friburgo, terra do seu coração.

Segundo Caderno

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2021-10-28T07:00:00.0000000Z

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