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Maurício Souza: Após pressão, Minas demite jogador por post homofóbico

Cobrado por patrocinadores e torcedores após postagem com teor homofóbico do jogador, clube encerra vínculo mesmo após vídeo de retratação. Aos 33 anos, central diz que seguirá ‘plantando o que acredita’

CAROL KNOPLOCH E RAFAEL OLIVEIRA esportesglb@oglobo.com.br

OMinas Tênis Clube anunciou ontem a saída do meio de rede Maurício Souza, um dia depois de ter afastado o atleta por postagem com teor homofóbico nas redes sociais, no capítulo mais recente de uma crise generalizada que envolveu jogadores, torcedores, patrocinadores e o clube. Pressionada pelos principais financiadores do vôlei masculino — a Fiat e a Gerdau, que cobraram medidas contra a postura do jogador —, a diretoria se reuniu ao longo dos últimos dias para deliberar sobre o caso e decidiu ontem pela saída definitiva.

Na terça-feira, o presidente Ricardo Vieira Santiago esteve com Maurício e comunicou ao atleta que ele estaria afastado por tempo indeterminado. O central também foi multado e orientado a fazer uma retratação pública em suas redes. O jogador o fez, mas de início, apenas no Twitter, em perfil com cerca de 100 seguidores no momento da postagem. No Instagram, onde fez a publicação que gerou a crise, Maurício tem cerca de 320 mil seguidores.

Foi por lá, ontem, que o central fez novo vídeo de retratação. Em três minutos, o jogador pediu desculpas “a quem se sentiu ofendido” com o que afirmou ser sua opinião. No último dia 12, ele se mostrou incomodado com o fato de o personagem Super-Homem ser apresentado como bissexual em um HQ. A postagem gerou revolta em parte dos torcedores e foi alvo de manifestação de outros atletas.

Maurício disse que estava defendendo seus valores e que não concorda em ser chamado de homofóbico:

— Assim como vocês têm direito de defender aquilo que vocês acreditam, eu tenho direito de defender o que eu acredito. Não precisamos brigar por isso. Respeito todos, sempre respeitei, dentro e fora de quadra, joguei com vários homossexuais, nunca desrespeitei, sempre fiz amizade — justificou, sem apagar a postagem do dia 12.

DESPEDIDA EM POST

Cerca de uma hora depois da publicação, o clube anunciou o desligamento do jogador, sem detalhes. Maurício despediu-se.

“Agradeço aos meus companheiros, comissão técnica, meu fisio, ao meu diretor, presidência e sócios por tudo. Sigo meu caminho plantando o que acredito, meu legado continua! Oque deixarei para meus filhos e neto sé oque conta no final”, escreveu.

A saída de Maurício gerou repercussão no mundo do esporte —contra e a favor.

Colega de seleção e assumidamente homossexual, Douglas Souza agradeceu pela postura dos patrocinadores do Minas na terça-feira.

“Homofobia não é opinião. Grande dia”, escreveu o ponteiro em uma rede ontem. A frase “homofobia não é opinião” foi usada por vários atletas ao longo da semana.

Por outro lado, Maurício recebeu apoio de atletas como Fred (Fluminense),e Felipe Melo (Palmeiras).

“Você é um homem de valor, conte sempre comigo, Deus abençoe você e os seus”, escreveu o palmeirense.

Ele teve ainda apoio de políticos, como o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), que sugeriu boicote às empresas.

Pela manhã, o presidente Jair Bolsonaro havia ironizado a punição ao atleta:

— Impressionante, né? Tudo é homofobia, tudo é feminismo —disse.

Presidente do Instituto dos Advogados do Brasil (IAB), Rita Cortez diz que Maurício tem que comprovar arrependimento para evitar o risco de ter problemas com a Justiça:

— Se ele está disposto a se retratar, uma das primeiras atitudes deveria ser remover imediatamente os comentários. Isso parece uma coisa óbvia. Porque retratação é arrependimento. Talvez sendo orientado por um advogado que mostre que a consequência pode ser muito maior ele tome tendência e parta para outras atitudes.

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2021-10-28T07:00:00.0000000Z

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