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Selfies já causaram 379 mortes desde 2008, diz estudo

Ao menos 31 óbitos foram registrados este ano; comportamento arriscado é mais comum entre homens jovens

BERNARDO YONESHIGUE* bernardo.yoneshigue@oglobo.com.br * Estagiário sob supervisão de Adriana Dias Lopes

Número voltou a subir este ano, com 31 vítimas até julho. Autorretrato de forma arriscada matou 17 brasileiros em 13 anos.

Tirar uma foto de si mesmo, ou apenas “fazer uma selfie”, nem sempre é inofensivo como parece. Para além dos perigos da exposição nas redes sociais, existe uma moda que cresce a cada ano: os registros em locais perigosos ou em situações arriscadas. E a preocupação de especialistas com a tendência não é à toa. Segundo um estudo publicado na última semana na revista científica Journal of Travel Medicine, pelo menos 379 pessoas morreram entre janeiro de 2008 e julho de 2021 enquanto faziam uma selfie considerada perigosa.

O número, que havia diminuído com a chegada da pandemia de Covid-19, voltou a subir de forma rápida com a melhora da situação epidemiológica em diversos países, chegando a 31 mortes apenas nos primeiros sete meses de 2021, o equivalente a, em média, um óbito por semana, segundo dados de um estudo conduzido pela Fundação iO de Madrid, na Espanha, especializada em medicina tropical e do viajante.

Segundo a pesquisa, o país que mais registrou mortes desse tipo foi a Índia, com cem casos, seguida pelos EUA, com 39, e a Rússia, com 33. O Brasil ocupa o quinto lugar da lista, que conta com mais de 50 países, com 17 casos identificados durante o período analisado.

A organização também listou os dez locais mais mortíferos: as cataratas do Niágara, na divisa entre os EUA e Canadá; acatarata de M lango, no Quênia; o Taj Mahal e o vale de Doodhpathri, na Índia; o arquipélago de Langkawi, na Malásia; os montes Urais, na

Rússia; o Charco del Burro, na Colômbia; a ilha Nusa Lembongan, na Indonésia; o Glen Canyon, nos EUA e, por fim, a praia da cidade de Penha, em Santa Catarina, no Brasil.

O local no sul do país registrou, inclusive, um dos 31 óbitos do ano, em 17 de janeiro, quando a professora Soliane Luiza, de 28 anos, caiu do costão da Ponta do Vigia enquanto fazia uma foto. Avítima foi arrastada por uma onda e chegou a ser resgatada pelos bombeiros, mas teve um aparada cardiorrespiratória e morreu antes de chegara o hospital.

O estudo chama atenção, no entanto, que não são apenas turistas que acabam perdendo a vida nessas situações. Enquanto 141 mortes foram de pessoas que estavam viajando, 238 pessoas morreram no local onde moravam.

Os tipos mais comuns de mortes envolvendo selfies foram decorrentes de quedas de lugares como cataratas, precipícios e telhados, que contabilizaram 216 dos 379 casos. Em seguida, situações que envolveram meios de transporte deixaram 123 mortos; 66 pessoas morreram em afogamentos; 24 mortes foram por arma de fogo; 24 por descargas elétricas e 17 por animais selvagens.

Cerca de 41% das vítimas eram adolescentes de até 19 anos e 37% eram jovens com idade entre 20 e 29 anos. Além disso, 60% dos casos envolveram homens.

O levantamento foi possível graças a uma ferramenta de inteligência epidemiológica chamada Heimdllr-Project, que consegue identificar todas as informações publicadas na internet sobre esse tipo de acidente, como notícias, em vários idiomas.

‘AUSENTE PRESENTE’

A pós-doutora em psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e CEO da Bee Touch, startup de saúde mental, Ana Carolina Peuker, explica que dois fatores podem explicar o perfil da pessoa que busca essas situações de risco na hora de tirar uma selfie: o fenômeno descrito como “ausente presente”, em que as pessoas às vezes estão tão conectadas com a realidade virtual que acabam minimizando aspectos do seu ambiente imediato, e uma predisposição de algumas delas para comportamentos mais impulsivos.

— Hoje a gente tem uma cultura que reforça esse comportamento —afirma.

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