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Quadrilhas do Haiti bloqueiam distribuição de combustíveis

Maior gangue do país controla terminal; em um país movido a geradores, os hospitais começam a entrar em colapso

PORTO PRÍNCIPE (Com El País e New York Times)

As gangues criminosas que controlam boa parte de Porto Príncipe bloquearam o principal terminal de distribuição de combustíveis do Haiti, impedindo que caminhões com suprimentos entrem na capital e provocando uma escassez que já atinge a precária rede de hospitais, prestes a entrar em colapso.

Para acabar com o bloqueio do porto de Varreux, em Cité Soleil, bairro de Porto Príncipe, o ex-policial Jimmy Cherisier, conhecido como Barbecue, exigiu a renúncia do primeiro-ministro Ariel Henry. Barbecue é chefe do chamado G-9, formado no ano passado por nove das quadrilhas que atuam no país.

—As áreas sob o controle do G-9 estão bloqueadas por um único motivo: exigimos a renúncia de Ariel Henry—disse Barbecue nase gunda-feira, em entrevista à Rádio Mega.

Segundo ele, assim que Henry deixar o cargo, o grupo permitirá a passagem segura de caminhões. Os últimos acontecimentos confirmam como as gangues assumiram um papel cada vez mais político no país, após o vácuo de poder deixado pelo assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho.

—Se Ariel Henry se demitir às8h,às8h05vam os desobstruira estrada, e todos os caminhões poderão pegar combustível—disse o chefe criminoso.—Após a sua demissão, vamos participar da segurança do país, começando pelas nossas áreas. Ninguém poderá sequestrar em nossos bairros.

‘SÓ MARCHA À RÉ’

Na entrevista, Barbecue afirmou ainda que Henry deve “responder às perguntas” que supostamente o ligam ao assassinato de Moïse. No começo de setembro, o procurador do Haiti, Bed-Ford Claude, foi demitido horas depois de pedir que o juiz responsável pela investigação do assassinato indiciasse o primeiro-ministro como suspeito. O magnicídio ainda não foi esclarecido, apesar da prisão de mais de 20 mercenários, a maioria colombianos, que teriam participado do crime.

Por causado bloqueio do termina leda insegurança, motoristas de caminhão se recusam a trabalhar, desencadeando uma greve nacional de trabalhadores do transporte que já dura três dias e paralisou uma nação que depende de geradores a diesel para a produção de grande parte de sua energia.

—Espero um Haiti melhor, mas sei que não vai melhorar — disse ao New York Times Rousleau Desrosiers, vendo seu recém-nascido respirar coma ajuda de aparelhos em um hospital cujo gerador está a poucos dias de ficar sem combustível. — O Haiti só anda par atrás. A única marcha que temo sé a ré.

Há uma semana, Desrosiers ficou sem gasolina para dirigir seu mototáxi. Em poucos dias, ele e sua mulher, grávida, ficaram sem comida. No domingo,ela deuàluzof ilho, um mês antes do previsto. Os geradores do hospital têm combustível suficiente apenas par adurara té amanhã. Depois, as máquinas que sustentam avida da criança vão parar de funcionar e todo o hospital terá que fechar.

Médicos e enfermeiras também ficaram sem combustível para ir de carro até o trabalho e os poucos táxis que restam nas ruas estão cobrando preços exorbitantes. Com isso, o hospital está usando ambulâncias para levar funcionários para o trabalho e comprando colchões para que eles possam dormir lá mesmo, no chão. Para economizar energia, os funcionários estão apagando as luzes sempre que possível.

— É um caos para o Haiti — disse Jacqueline Gautier, diretora do hospital.

A crise energética fez com que a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertasse ontem que a escassez de combustível no Haiti nos últimos dias está ameaçando o acesso e a continuidade da assistência médica no país.

Em seu hospital de trauma em Tabarre, em Porto Príncipe, a organização foi forçada a limitar o número de pacientes atendidos e está tratando apenas emergências médicas que ofereçam risco de vida. O funcionamento de muitas outras estruturas médicas, públicas e privadas, também foi interrompido. Diante das necessidades urgentes, a ONG fez um apelo às várias partes envolvidas para que tomem medidas rápidas e facilitem o fornecimento de combustível às estruturas de saúde.

—Sem combustível, não podemos administrar nosso hospital —disse Kanouté Dialla, coordenador do hospital de Tabarre. —Estamos fazendo o possível para manter nossas atividades, adaptando-as no dia a dia, mas essa situação é insustentável. O hospital é o único centro do país especializado no tratamento de queimaduras graves.

SEQUESTRO DE 18

Na semana passada, o sequestro de 18 pessoas por uma gangue conhecida como 400 Mawozo, algo como “400 do povo” também salientou a dimensão que essas quadrilhas assumiram em substituição do Estado. Os sequestradores exigiram US$ 17 milhões (R$ 96 milhões) para libertar os reféns —16 dos Estados Unidos, uma do Canadá e uma do Haiti, todos parte de um grupo de missionários. Oche feda gangueameaçou“colocar um abala em suas cabeças” amenos que o resgate seja pago.

Além da extorsão em troca de proteção e do tráfico de drogas, o sequestro é um meio habitual de financiamento das gangues haitianas.

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2021-10-28T07:00:00.0000000Z

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