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Para economistas, será necessário equilibrar gastos

Especialistas temem que país caminhe para um quadro de dominância fiscal, no qual altas de juros já não surtem efeito contra inflação

STEPHANIE TONDO stephanie.tondo@oglobo.com.br

Adecisão do Banco Central de elevar os juros em 1,5 ponto percentual, mais do que nas decisões anteriores, era esperada por especialistas, que apontavam a necessidade de uma ação efetiva para controlarainflação, que acumula alta de 10,34% nos 12 meses até outubro pelo IPCA-15. Mas economistas temem que o quadro de desajuste nas contas públicas no país acabe levando a um cenário de dominância fiscal, em que as políticas monetárias deixam de surtir efeito no controle de preços.

A avaliação é que, além de elevar a Taxa Selic, é preciso que o governo se esforce para manter os gastos dentro do teto (a regra que limita o crescimento das despesas públicas) para sinalizar ao mercado que a responsabilidade fiscal é uma prioridade. Caso contrário, a confiança dos investidores pode se deteriorar.

Em circunstâncias normais, a alta dos juros reduz o consumo e, portanto, a demanda, fazendo com que haja menos espaço para que os preços subam. Além disso, aumenta a confiança do mercado na política monetária, valorizando o câmbio e fazendo com que haja mais investimento.

Porém, em um cenário de aumento da dívida pública, como oque ocorre no Brasil, juros mais altos prejudicam a capacidade do governo de honrar compromissos.

— Numa situação de dominância fiscal, a alta da Selic provoca piora da inflação. O mercado começa a acreditar que o Tesouro não vai conseguir pagar os juros da dívida, e aí os investimentos saem do país, o câmbio se deprecia. É quando apolítica monetária passa anão funcionar mais— explica Marilia Fontes, sóciafundadora da Nord Research.

Além disso, um patamar de juros mais altos em meio a desemprego elevado e inflação faz com que haja menos investimentos privados, reduzindo o crescimento econômico. É o que se chama de estagflação.

Em relatório, o Itaú já projetou recessão moderada para 2022. O banco revisou as expectativas de crescimento, passando de alta de 0,5% para queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2022.

No texto, o banco aponta que os aumentos de gastos fiscais, com fatores como o programa Auxílio Brasil de R$ 400, “aumentaram as dúvidas sobre o futuro do arcabouço fiscal no Brasil, que desde 2016 tem sido baseado em um teto de gastos ajustável”.

“Embora a discussão sobre dominância fiscal pareça exagerada no momento, é verdade que, sem uma âncora fiscal crível, a tarefa do Banco Central de manter a inflação na meta se torna mais difícil”, alerta o relatório do Itaú.

Marilia Fontes, da Nord Research, afirma que apesar de o Brasil ainda não ter atingido o cenário de dominância fiscal, as sinalizações do governo no sentido de flexibilizar o teto de gastos fazem com que o país se aproxime cada vez mais desse horizonte.

Para Álvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, o país não está longe da estagflação. E a única forma de evitar isso é equilibrar as contas públicas.

Economia

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2021-10-28T07:00:00.0000000Z

2021-10-28T07:00:00.0000000Z

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