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Irritação com pegadinha gera recado de ex-aliado

Bolsonaro deixa entrevista após pergunta sobre ‘rachador’ feita por filho de Paulo Marinho, que rebate citando Bebianno

DANIEL GULLINO E FILIPE VIDON politica@oglobo.com.br BRASÍLIA E RIO

Irritado com uma pergunta sobre a prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o presidente Jair Bolsonaro encerrou ontem a entrevista que concedia à rádio Jovem Pan. A questão foi levantada pelo humorista André Marinho, que participava do programa e fez referência a supostas práticas de partidos de esquerda, como o PT, que guardam semelhanças com condutas apontadas no governo Bolsonaro e com denúncias contra um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

Antes de encerrar a entrevista, Bolsonaro criticou a pergunta de André e disse que seu pai, o empresário Paulo Marinho, “quer a cadeira do Flávio” no Senado. Marinho, indicado suplente do senador antes de romper com Bolsonaro, rebateu o presidente com um vídeo nas redes sociais no qual pergunta a ele se “lembra do nosso amigo Gustavo Bebianno”, outro ex-aliado da campanha de 2018, e que morreu em 2020.

O entrevero começou quando André Marinho, em tom jocoso, disse se preocupar com uma eventual volta ao poder do PT, que, em suas palavras, “vendeu o governo para o Centrão, comprou base parlamentar via emenda, tinha milícia digital para atacar opositor e fez indicação de cunho político ao STF”.

Em seguida, ele lembrou investigações do Ministério Público do Rio contra gabinetes na Alerj em que funcionários seriam obrigados a devolver salários aos deputados, prática conhecida como rachadinha, e citou indícios envolvendo partidos de esquerda, sem referir-se diretamente a Flávio —que já foi denunciado formalmente pelo MP, no ano passado. Ao passar a palavra a Bolsonaro, o humorista questionou o presidente se ele achava que “rachadores” deveriam ir presos.

—Você sabe que eu sou presidente da República e respondo sobre meus atos, tá ok? Então não vou aceitar provocação tua. (...) O teu pai é o maior interessado na cadeira do Flávio Bolsonaro. Não vou discutir contigo ou acaba a entrevista aqui —rebateu o presidente.

Após ser citado, Paulo Marinho publicou seu vídeo de resposta, intitulado “recado para o capitão Bolsonaro”, em que criticou a “maneira descortês” com que seu filho foi tratado, e afirmou que “quem quer o mandato do Flávio é o Ministério Público”. Marinho pediu que Bolsonaro se lembre de Bebianno “quando estiver chorando no banheiro do Palácio (da Alvorada)”.

Após a morte de Bebianno, um dos aliados mais próximos de Bolsonaro em 2018, Marinho disse que o exministro da Secretaria-Geral havia deixado, nos Estados Unidos, um telefone celular com registros de diálogos com o presidente e bastidores da campanha de 2018. A viúva de Bebianno, Renata, disse depois ter destruído o aparelho, mas não há confirmação se houve “backup” dos arquivos do telefone.

—Talvez você já tenha esquecido dele. Mas ele não lhe esqueceu, pode ter certeza disso —afirmou Marinho.

Humorista citou para o presidente indícios apurados pelo MP de ‘rachadinha’ na Alerj

Política

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2021-10-28T07:00:00.0000000Z

2021-10-28T07:00:00.0000000Z

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