Infoglobo

Pedalada na meta envergonha o Brasil na COP-26

A esta altura, já está clara a posição de pária que o governo Bolsonaro ocupará na cúpula global do clima

Nunca se deve subestimar o poder de Jair Bolsonaro manchara imagem do Brasil no exterior. Faltando poucos dias para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), em Glasgow, Escócia, um documento da ONU mostra que o governo brasileiro tenta dar uma “pedalada” na promessa de cortes na emissão degases causadores do efeito estufa. Não bastam a devastaçãoda Amazônia e a incapacidade de apresentar política convincente de transição à economia de baixo carbono, agora temos mais essa vergonha.

Há seis anos, a COP de Paris adotou uma fórmula engenhosa para permitir o engajamento dos países presentes. Cada um pôde decidir de forma soberana o tamanho da sua responsabilidade na redução das emissões. Desde o Acordo de Paris, novas metas foram apresentadas. No Relatório sobre Lacuna de Emissões 2021, publicado na terça-feira, Brasil e México aparecem como os únicos que elevaram a quantidadedegases que pretendem lançar na atmosfera em relaçãoà promessa inicial. Nocas o mexicano, aal taépe quena. No brasileiro, está longe disso.

A proposta brasileira é reduzir 43% das emissões até 2030, tendo como base 2005. Isso não mudou, masa atualização apresentada em dezembro se aproveita de uma manobra contábil, como ressaltou o cientista R ao ni Rajão, da Universidade Federal de Minas Gerais( UFMG ). Em sua pedalada, o governoapresentou um anova estimativa para as emissões em 2005, sobre a qual passara maser calculados os 43%. A base foi de 2,1 bilhões para 2,8 bilhões de toneladas de CO2. Como não aumentou o percentual de corte, o Brasil se propôs na prática a jogar na atmosfera o equivalente a 300 milhões de toneladas amais de gás carbônico em 2030.

Países ricos, como Estados Unidos e Japão, têm tornado suas metas mais rígidas e eficazes contra os efeitos do aquecimento global, antecipando as datas para atingir seus objetivos. Países emergentes, como Argentina, África do Sule China, estão empenhados em reduções maiores. A emergência climática não dá espaço a demagogias ao estilo “os ricos poluíram mais, agora é nossa vez”, como quer crer Bolsonaro.

Não está claro se o Brasil poderá sofrer represália no âmbito da ONU pela pedalada. Mas, a esta altura, já é evidente aposição de pária que ocuparemos na COP-26. Alargada para acorrida verdejá foi dada e,n atoadas e guida porBol sonar o, crescerão os boicotes a produtos brasileiros, motivados pela opinião pública internacional.

A meta globa lé chegara 2050 com emissões líquidas zeradas (o que for inevitável jogar na atmosfera terá de ser removido por mecanismos como o reflorestamento ). Oobjetivoéimped ir um aumento acima de 2°C na temperatura da Terra até o fim do século, em relação ao nível anterior à Revolução Industrial. Preferencialmente, a meta teria de ser 1,5°C. Pelas promessas atuais, no entanto, a temperatura subirá 2,7°C. Não está, por isso, descartada a hipótese de que os objetivos se tornem mais ambiciosos no futuro. Novos compromissos de cortes terão de ser feitos — e a pedalada brasileira tem pouca chance de prosperar incólume.

Em evento recente, Daniela Lerario, representante do Brasil no órgão da COP-26 voltado para a sociedade civil, o Campeões do Clima, resumiu a situação da seguinte forma:“Ness acorrida não haverá um vencedor. Ou todo mundo ganha, ou todo mundo perde”. Será tão difícil assim entender?

Opinião Do Globo

pt-br

2021-10-28T07:00:00.0000000Z

2021-10-28T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281578063875886

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.