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Calor pode fazer de recifes ‘cidades-fantasmas’

Estudo de pesquisadores da UFRN que levou sete anos concluiu que emissão de gases do efeito estufa pode eliminar metade das espécies que vivem nestes ambientes até o fim do século no Atlântico Sul

BRUNO ALFANO bruno.alfano@extra.inf.br

Uma análise de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) mostrou que metade da vida marinha em recifes tropicais do Atlântico Sul não vai mais existir até o final do século se o nível de emissão de gases estufa for mantido no patamar atual. As projeções estão publicadas na edição da revista especializada Ecosystems e foram divulgadas ontem pela Agência Bori.

Durante sete anos, os pesquisadores do grupo liderado por Guilherme Longo, Leonardo Capitani e Ronaldo Angelini tentaram entender como o aumento de temperatura do planeta afeta diretamente animais marinhos, recifes e matéria orgânica. O sítio escolhido para o estudo foi o Atol das Rocas, primeira Reserva Biológica Marinha do país.

— Por ser uma área protegida, os recifes do atol são um laboratório do que seria um ecossistema natural, com mínima interferência humana direta — afirma Longo, co-autor do estudo, que contou com o apoio e controle do Programa Ecológico de Longa Duração das Ilhas Oceânicas e da equipe da reserva biológica do Atol das Rocas.

Os pesquisadores conseguiram criar um modelo matemático de cadeia alimentar dos recifes tropicais do Atlântico Sul, algo inédito para as pesquisas da área.

O modelo consegue comparar a biomassa de diversos organismos a cada ano, incluindo peixes, algas, corais e outros invertebrados, levando em consideração a eficiência daquele recife em circular energia e matéria.

COLAPSO JÁ EM 2050

A projeção indica que, se o crescente nível de emissão de gases estufa na atmosfera for mantido da maneira que está, a sobrevivência de muitos animais entrará em colapso já em 2050.

—O aquecimento dos oceanos vai levar a uma diminuição drástica na diversidade marinha, porque a biomassa dos recifes vai transferir menos energia para o próximo animal da cadeia, as algas vão ter menos nutrientes e os peixes serão menos resistentes, diminuindo e fragilizando as espécies — explica Leonardo Capitani.

Na avaliação de Longo, os recifes correm o risco de se tornarem “cidades-fantasma” no mar.

—Ficarão totalmente sem vida —explica.

Para os pesquisadores, o estudo alerta para a crise climática, resultado da ação humana, e os impactos que ela terá sobre a atividade pesqueira e o turismo do litoral brasileiro, já que os recifes são reservas importantes de cardumes de peixes. Longo destaca a importância de projetos de monitoramento de longo prazo de ecossistemas marinhos e do fortalecimento de unidades de conservação para reduzir impactos humanos locais.

—Com isso, podemos preparar os recifes para impactos globais —defende.

Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgado na semana passada, o planeta vai chegar ao limite de aumento de 1,5°C de aquecimento global em relação à era préindustrial em 2030, dez anos antes do previsto, o que poderá trazer consequências para os oceanos.

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2021-08-19T07:00:00.0000000Z

2021-08-19T07:00:00.0000000Z

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