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A discussão racial entra na dança

Companhia da Rocinha apresenta ‘Brasileirices’

LARISSA MEDEIROS larissa.medeiros.rpa@oglobo.com.br

Na quinta-feira, seis bailarinos da Cia. Livre de Dança, da Rocinha, vão abordar, por meio do espetáculo on-line “Brasileirices”, as controvérsias da Lei Áurea, promulgada em 13 de maio de 1888, mesma data do evento. O enredo é desenvolvido a partir do olhar de um jovem negro que nasceu no dia da Lei do Ventre Livre e, mesmo com o decreto de liberdade, continuou trabalhando como escravo. O personagem será interpretado por todo o elenco, como representação dos diferentes corpos que enfrentaram a escravidão. O objetivo é discutir até onde a liberdade de que tratam os livros de História foi, de fato, aplicada na realidade. Para a idealizadora do grupo, Ana Lúcia da Silva, que faz pesquisas sobre a dança afro-brasileira, é de suma importância tratar desse tema no dia que é marcado pela promulgação da Lei Áurea.

— Apesar de ter seu valor histórico, essa data tende a ser vista de uma maneira romanceada. Não podemos deixar de reconhecer que a abolição não resolveu questões essenciais acerca da inclusão dos negros libertos na sociedade brasileira, o que reflete diretamente na desigualdade e no racismo estrutural dos dias de hoje. O espetáculo é sobre isso —explica.

“Brasileirices”, que reúne dança, canto, folclore e ritmos característicos da dança afro-brasileira, como cafezal, lundu e batuque, foi criado em 2016 e recebeu prêmios. Os bailarinos em cena são Yara Silva, Gleyce Lima, Junior Andrade, Mayara Arruda, Ana Gregorio e Canela Monteiro. A percussão, ao vivo, ficará a cargo de mestre Alexandre Pires e de Kayo Ventura.

— O “Brasileirices” ganha vida com a montagem musical de ritmo e percussão. Parte do encanto que a apresentação tem vem do fato de a percussão ser ao vivo e totalmente inédita —diz Ana.

Sobre expectativas, ela diz que a imersão na cultura é importante para a compreensão do enredo.

—Acho que o público pode esperar a base de toda a cultura ancestral e, sobre-

“Queremos trazer um balé no qual a cultura afrodescendente exiba a beleza da ancestralidade”

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Ana Lúcia da Silva,

da Cia. Livre de Dança

tudo, o dinamismo. Tudo será ditado pelo ritmo dos tambores, agindo como um pulsar, uma dança alegre, característica do ritmo dos afrodescendentes. Nosso objetivo é mostrar a força, a tristeza, a alegria e a herança histórica. Queremos trazer um balé de pé no chão, com muita resistência, no qual a cultura afrodescendente exiba a beleza da ancestralidade —explica. Além da apresentação quinta, às 18h, haverá sessão sábado que vem, no mesmo horário, com transmissão gratuita no Facebook (@cialivrededancadarocinha), no Instagram(@cialivrededanca) e pelo link do YouTube bit.ly/cialivrededança.

Cultura / On-line

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2021-05-08T07:00:00.0000000Z

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