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Arábia Saudita suspende compra de frango de 11 frigoríficos

País tem meta de ser autossuficiente na produção de aves, o que, segundo fontes, seria o motivo do veto. JBS fica fora do mercado

ELIANE OLIVEIRA E GLAUCE CAVALCANTI economia@oglobo.com.br BRASÍLIA E RIO

AArábia Saudita, segundo maior comprador de carne de frango do Brasil, suspendeu as exportações de aves de 11 unidades brasileiras, das quais sete pertencem ao grupo JBS. Com isso, a JBS fica fora desse mercado, segundo a agência Reuters. A rival BRF não foi afetada pelo veto. Segundo integrantes do governo, não houve uma explicação formal para o bloqueio aos produtos brasileiros. Na avaliação de fontes, a medida foi tomada por “puro protecionismo”. De acordo com uma dessas fontes, a Arábia Saudita tem uma meta de chegar a um nível de autossuficiência na produção de frangos, o que teria motivado a imposição da barreira. A medida entra em vigor a partir do dia 23. Segundo comunicado conjunto do Itamaraty e do Ministério da Agricultura, a medida poderá ser contestada em ação na Organização Mundial do Comércio (OMC), se não houver acordo bilateral. “Não houve contato prévio das autoridades sauditas, tampouco apresentação de motivações ou justificativas que embasem as suspensões”, diz a nota.

ÚNICO PAÍS AFETADO

Ainda de acordo com autoridades brasileiras, a decisão saudita só foi conhecida a partir da publicação de uma nova lista de unidades autorizadas a exportar para o país, publicada na quinta-feira pela Saudi Food and Drug Authority (SFDA). Dessa lista, foram excluídos 11 frigoríficos. Apenas o Brasil foi afetado pela atualização do rol de exportadores.

O grupo Vibra Agroindustrial teve três unidades suspensas, e a Agroaraçá, uma unidade barrada, de acordo com o documento.

Em nota, a JBS disse que já procurou a autoridade sanitária saudita para dialogar e entender as motivações do bloqueio. “A produção antes destinada à Arábia Saudita foi redirecionada para outros mercados”, afirmou a empresa. Procurada, a Vibra não comentou. O GLOBO não conseguiu fazer contato com a Agroaraçá.

O Brasil é o maior exportador de frango do mundo, tendo alcançado 4,23 milhões de toneladas comercializadas no exterior em 2020. Os Estados Unidos, que vêm na sequência, alcançaram 3,39 milhões de toneladas, segundo números da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

A Arábia Saudita é o segundo destino do frango brasileiro, perdendo apenas para a China. No primeiro trimestre deste ano, as exportações para o pais árabe somaram 120,8 mil toneladas, gerando US$ 205,8 milhões em receita. A suspensão ocorre na mesma semana em que a companhia saudita Almarai, uma das maiores do país, anunciou um investimento de US$ 1,8 bilhão para dobrar sua produção de frango. Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), a decisão da Arábia Saudita foi recebida com surpresa, principalmente pela falta de justificativa: —O Brasil sempre teve bom relacionamento com a Arábia

Saudita, que é destino importante das nossas exportações: segundo maior destino para frango, quarto em açúcar, sétimo em carne bovina. É uma surpresa, que pode ter alguma ligaçãocomaquestãoambiental ou, talvez, ruído político. O movimento dos árabes, contudo, adverte Castro, pode ter desdobramentos negativos para os exportadores brasileiros:

—A Arábia Saudita tem um peso político e econômico enorme na região. Então, pode trazer um impacto negativo indireto, levando outros países a fazerem o mesmo, pela grande influência que tem no Oriente Médio e na África.

PRODUÇÃO LOCAL

Márcio Sette Fortes, professor de Relações Internacionais do Ibmec e diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), pondera que já se sabia há tempos que os sauditas queriam reduzir a importação de frango:

— Não se trata de retaliação ambiental nem política, porque os sauditas seguem comprando uma série de outros produtos do Brasil. A medida, apesar de não ter havido justificativa, não é novidade. Sabíamos que a Arábia Saudita tinha a intenção de ampliar a produção local de frango.

Em nota, a ABPA destacou que apoia o governo brasileiro na busca por mais detalhes sobre a “surpreendente decisão unilateral” tomada pelas autoridades sauditas. A entidade reforçou seu compromisso de parceria estratégica com aquele mercado, um dos mais longevos e importantes importadores de aves do Brasil.

Economia

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2021-05-08T07:00:00.0000000Z

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