Enxugando gelo

Trabalhei durante 35 anos como professor em regiões denominadas conflagradas do Rio de Janeiro, em que existe o tráfico de drogas. Desde o primeiro dia desse meu ofício, presenciei inúmeras incursões policiais ridículas, em que havia trocas de tiros a esmo, vindas de blindados e de helicópteros, que aterrorizavam e colocavam em grande risco moradores e trabalhadores dessas comunidades, com resultados pífios, já que, logo em seguida, os traficantes voltavam armados para os seus postos, e as bocas de fumo retomavam o funcionamento normalmente. As mortes são festejadas por aqueles que ainda acham que a solução é exterminar a bandidagem, como gosta de bradar o presidente da nação. Porém, o que se vê claramente é um processo de enxugamento de gelo. Os bandidos que morrem são imediatamente substituídos por outros. E o tráfico de drogas reina soberano, até porque os principais responsáveis pelo fornecimento das drogas e das armas não moram em tais comunidades.

PAULO FERNANDO R. DA CRUZ

RIO

Se no Brasil fosse imposta novamente a pena capital, de forma legalizada pelos nossos legisladores, para criminosos de alta periculosidade e com reincidência específica em crimes hediondos, seria uma medida preventiva de acontecimentos como este, no qual pessoas inocentes foram vítimas na favela do Jacarezinho. Os bandidos contumazes já estariam no mínimo presos e no corredor da morte. E a salvo estariam as pessoas de bem que moram ali nas comunidades onde habitualmente esses criminosos se escondem. Dessa forma, não haveria mais necessidade de incursões às favelas, estando a salvo crianças, mulheres e homens que moram nesses locais não por vontade própria, mas por falta de uma política habitacional e pelo abandono do poder público. Creio que urge repensarmos o modo de agirmos e não ficarmos enxugando gelo, pondo um fim a tudo isso. Deixemos de lado a hipocrisia. SÉRGIO RICARDO IUSIM

RIO