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‘PEDIU AJUDA, MAS MATARAM’

PARENTES RELATAM EXECUÇÕES E CENAS FORJADAS

Um dia depois do massacre no Jacarezinho, parentes de mortos na operação policial denunciaram supostas violações cometidas pelos agentes. Entre os relatos, há possíveis execuções e denúncias de vítimas mortas a facadas e de cenas montadas com corpos por policiais. Também se repetiram as histórias de quem viveu momentos de terror durante a presença da polícia na comunidade, com helicóptero atirando do alto, bandidos pulando em lajes e policiais arrombando portas. No Instituto Médico-Legal (IML), onde esteve para liberar o corpo do marido, uma auxiliar de serviços gerais de 25 anos afirmou que o companheiro foi morto em um beco. Segundo ela, que preferiu não se identificar, Jonas do Carmo dos Santos, de 32 anos, era ajudante de pedreiro.

— O meu marido foi baleado na perna, chorou e pediu ajuda, mas eles mataram mesmo assim —disse a viúva. Parentes contaram que Jonas já foi preso, mas cumpria pena fora da cadeia. Na última segundafeira, ainda de acordo com a família, ele se apresentou à Justiça para assinar a liberdade provisória e pôr tornozeleira eletrônica. —Não achamos a tornozeleira. Eles mexeram nos corpos —acrescentou a viúva. Pelo menos um dos 27 mortos na incursão não portava armas ou drogas, tampouco foi acusado na Delegacia de Homicídios (DH) de ter atirado contra os policiais. O registro de ocorrência indica que o homem, não identificado, estava “sentado em uma cadeira” quando foi encontrado pelos agentes no Beco da Síria. Parentes dizem que se trata de Matheus Gomes dos Santos, de 21 anos. O rapaz, que não morava no Jacarezinho, passou a noite na casa da namorada na comunidade. Uma foto de Matheus sentado em uma cadeira de plástico, já baleado, com uma das mãos na boca, viralizou na internet. Moradores acusam os policiais de terem colocado o rapaz na posição e feito o registro, antes que ele fosse socorrido: — Fizeram pra esculachar meu amigo. Eles são assim. Já parentes de Francisco Fábio Dias Araújo, de 25 anos, relatam que ele foi atingido na mão e entrou andando em um blindado da Polícia Civil. No Hospital municipal Souza Aguiar, porém, teriam sido encontrados cortes no pulso, na virilha e na barriga do rapaz. — As pessoas estavam na rua tentando que eles se entregassem, mas impediram. O helicóptero mostrou onde eles estavam, e os policiais foram lá. Meu cunhado estava desarmado e foi esfaqueado no “caveirão”— disse um parente.

Já a Polícia Civil descartou a possibilidade de mortes por facadas. Os laudos, segundo a corporação, indicam mortes causadas por armas de fogo.

Rio

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2021-05-08T07:00:00.0000000Z

2021-05-08T07:00:00.0000000Z

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