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‘A cama da criança estava encharcada de sangue’

Defensora pública que visitou a comunidade conta que uma menina de 9 anos viu um homem ser executado no seu quarto

Amorte de um homem na frente de uma criança de 9 anos, no quarto dela, é uma das histórias chocantes ocorridas no Jacarezinho que embasam as denúncias da Defensoria Pública de abuso por parte da Polícia Civil. Uma comissão formada por defensores públicos e integrantes da área de direitos humanos visitou a favela e conversou com moradores na tarde de ontem. Eles entraram na casa onde uma família, incluindo uma menina, testemunhou uma execução.

O pai da criança, nascida e criada na comunidade, relatou que um rapaz baleado, em fuga, tentou se esconder na residência, no segundo andar de um sobrado. Ele disse que o homem deitou na cama da filha, sendo que logo depois chegou um policial armado. Três tiros teriam sido disparados pelo agente.

Nesse momento, o pai tentou proteger a menina. O cobertor rosa com estampa infantil ficou encharcado de sangue. Entre a cama e a parede, cravejada de tiros, havia ontem uma enorme poça de sangue. No chão, um enfeite de coração também tinha as marcas da cena de horror.

A menina, que anteontem ficou na casa de uma vizinha, não quer mais dormir em casa. O pai contou ao “RJTV” da TV Globo os minutos de pânico:

—Ele entrou na casa baleado, se escondendo. Entrou no quarto da minha filha, deitou na cama dela e se cobriu. Entrou um policial, todo de preto, sem o nome, e foi falando: “cadê, cadê a pistola”. Quando cheguei na sala, de costas, com a minha filha na frente, ele efetuou os disparos. Acho que foram três disparos. Eu protegi ela (a filha) com o meu corpo.

A defensora pública do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos Maria Julia Miranda não consegue tirar da cabeça o cenário: —Na casa que visitamos, havia uma criança de oito anos. Um rapaz foi executado no quarto dela. A família viu essa execução. A cama da criança estava encharcada numa poça de sangue, inclusive a coberta que ela se cobria. Essa menina está totalmente traumatizada. Na caminhada pelo Jacarezinho, a comissão encontrou sangue por toda parte e centenas de cápsulas espalhadas em becos e vielas. Maria Julia conta ter visto viu muitos “muros e portas cravejados de balas”, mas diz que o pior de tudo foi vivenciar o trauma das pessoas que, possivelmente, assistiram a execuções no interior de duas casas. —Estivemos em um cômodo repleto de sangue e com partes de corpos. Parecia ser massa encefálica. Difícil de dizer. Uma senhora que conversou com a gente estava impactada com aquilo tudo —descreve a defensora pública, acrescentando. —Nestes dois casos, provavelmente, ocorreu execução.

Ela ressalta que, nas duas casas visitadas, as pessoas baleadas foram retiradas, caracterizando que o local do crime foi desfeito. Advogado da Comissão de Direitos Humanos da OAB, Rodrigo Mondego afirma que será pedida uma indenização para a família da criança que presenciou uma das mortes: —Vamos articular junto à Defensoria uma reparação civil da família. Aquela criança nunca mais será a mesma.

Rio

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2021-05-08T07:00:00.0000000Z

2021-05-08T07:00:00.0000000Z

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