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Comércio aberto e transporte lotado provocam temor de surtos

Cientistas reprovam flexibilização de atividades econômicas e baixa oferta de ônibus durante pandemia

JULIA NOIA* E RENATO GRANDELLE sociedade@oglobo.com.br

Adecisão anunciada pelas prefeituras de Rio e São Paulo de aumentar o horário de funcionamento do comércio às vésperas do Dia das Mães é criticada por cientistas, temerosos de que aglomerações, em um momento de ampla circulação do coronavírus, provoque um novo avanço no índice de casos e mortes por Covid-19. A abertura de serviços não essenciais, mesmo restrita, nãoére comendada pelos especialistas,e, para eles, o poder público deve assumira dívida dos comerciantes, criando mecanismos como incentivos fiscais e redução de tarifas, além de auxílio financeiro. O deslocamento em massa da população para centros comerciais também gera preocupação, com transportes públicos lotados e como grandes fontes de contágio do vírus. —A oferta de transporte público no Rio é muito baixa, então forma-se facilmente uma aglomeração — explica Romulo Orrico, professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ. — Além disso, há muitos deslocamentos longos, então temos um grande tempo de exposição a pessoas que podem estar infectadas. Precisamos incentivar a população a ficar em casa e aumentar a quantidade de ônibus. Professor de Economia e coordenador do Núcleo de Preços

ao Consumidor da FGVRJ, André Braz avalia que a flexibilização para o funcionamento do comércio só deve ser iniciada após o “avanço considerável da vacinação”: —Se não for assim, será um tiro no pé para a própria atividade econômica, que necessita da segurança proporcionada pelo imunizante para evitar esse movimento de abre e fecha — ressalta. — O poder público precisa garantir meios para que comércio e serviços, setores mais afetados pela pandemia, tenham fôlego para voltar a gerar renda e emprego, como a concessão de incentivos fiscais, o financiamento de dívidas e a redução temporária de tarifas.

REDUÇÃO INSUSTENTÁVEL

Fernando Bozza, pesquisador da Fiocruz, indica que o Rio testemunhou uma queda no número de hospitalizações e óbitos, mas não há indício de que essa redução será “prolongada e sustentável”, ainda mais após a descoberta, divulgada nesta semana, de uma nova mutação do coronavírus no estado. —Não há justificativas para encaminharmos para uma flexibilização rápida das medidas de restrição, especialmente com achegada de uma variante mais transmissível—alerta. —É prudente manter o distanciamento social e espera ruma consistente queda dos casos e ampliação da vacinação. Estamos longe de um cenário epidemiológico confortável. Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do RioGr ande do Sul, PauloPetry avalia que a aglomeração do comércio levará o país a repetir acurva ascendente de casos e mortes observada após outros feriados, como Natal, réveillon e carnaval. —Mas até pequenos encontros familiares demandam cuidado, porque devemos saber como cada um se cuida: se costuma ficar em casa, se usa transporte público. *Estagiária, sob supervisão de Eduardo Graça

Sociedade

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2021-05-08T07:00:00.0000000Z

2021-05-08T07:00:00.0000000Z

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