Infoglobo

REDUZIR LETALIDADE DA POLÍCIA PRECISA SER META NO RIO

Ações como a do Jacarezinho, que deixou 28 mortos, expõem falta de inteligência e planejamento

Por mais legítimos que sejam os objetivos de uma incursão policial, ela inevitavelmente é posta em xeque quando resulta na morte de 28 pessoas. Foi oque aconteceu coma operação Exceptis, realizada quintafeira pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) na comunidade do Jacarezinho, reduto da maior facção criminosa do Rio de Janeiro. Nunca, na história do estado, uma ação policial fez tantas vítimas. Não se discute o objetivo da operação. Pelo que se divulgou, a intenção era cumprir mandados de prisão contra criminosos que aliciam crianças e adolescentes para o tráfico, sequestram trens da SuperVia, agem como grupos terroristas e impõem o terror na comunidade. É dever do Estado proteger os cidadãos e combater essas organizações que há muito usurparam o poder constituído, afrontando o Estado democrático de direito. Oques e pode discuti ré aforma de alcançar o objetivo. As cenas observadas ao longo de quinta-feira sugerem que faltou um mínimo de inteligência e planejamento, fundamentais para que uma operação seja bem-sucedida eque se reduza o número de vítimas. O que se viu no Jacarezinho, ao contrário, foi um tiroteio insano, que matou 28 pessoas, expôs a população da comunidade, os próprios policiais — um deles morreu atingido por um tiro na cabeça —e pessoas que nada tinham a ver com a situação, como os dois passageiros do metrô baleados num vagão e um morador ferido dentro decas a. Não é preciso ser especialista em segurança pública par aperceber que há algo de errado em tudo isso. A ação precisa ser investigada com independência, para que se esclareça se as vítimas foram executadas, como alegam moradores.

A ação fica ainda mais expostaabeque uma liminar do ministro Edson Fachin, do STF, restringiu em 2020 as operações em comunidades do Rio durante a pandemia. A decisão foi dada após a morte do menino João Pedro, em São Gonçalo. Elas só podem ser feitas em situações excepcionais e sob condições, como a obrigação de informar ao Ministério Público. Fachin analisará se as polícias do Rio vêm descumprindo a determinação. Ele mandou a PGR e o MP do Rio apurarem se são verdadeiros vídeos que apontam indícios de execução.

A operação no Jacarezinhotona a discussão sobre a letalidade da polícia fluminense. De acordo com dados do Monitor da Violência, do G 1, embora o número de civis mortos e mações policiais tenha caído significativamente no Rio em 2020 (32%, contra 3% no Brasil ), a verdade é que a polícia do estado ainda se mantém como uma das mais letais do país (7,1 mortes por cem mil habitantes), ficando atrás apenas das de Amapá (12,8), Sergipe (8,5) e Bahia (7,6). O governador Cláudio Castro, que assumiu o governo após o impeachment de Wilson Witzel, pre cis ater como meta reduzi ressa letalidade. Espera-seque, coma saída de Witzel, tenha fica dopar atrás apolítica do“tiro na cabecinha”, que incentivava execuções sumárias. Ações policiais num estado conflagrado como o Rio são obviamente necessárias. O crime organizado, que expande seus domínios a cada dia, precisa ser combatido. Mas as forças de segurança deveriam fazer uso da inteligência, de recursos tecnológicos e da integração entre as polícias para realizar ações mais cirúrgicas e menos letais. O Estado não combaterá a violência com mais violência.

Primeira Página

pt-br

2021-05-08T07:00:00.0000000Z

2021-05-08T07:00:00.0000000Z

https://infoglobo.pressreader.com/article/281578063537187

Infoglobo Conumicacao e Participacoes S.A.